sábado, 5 de novembro de 2011

knockout

O primeiro golpe acertou-me na cara, senti a dureza dos nós dos dedos calejados de socarem, embaterem no meu maxilar barbeado. Desequilibrei-me mas não cheguei a cair.
Estava a sair do elevador quando um tipo de dois metros se aproximou a perguntar se eu era o Romeu. Nunca pensei que era o marido da minha secretária, aquela que eu andava a comer… nem sabia que ela era casada, muito menos com um gorila. Uma mulher daquelas!… esperava que tivesse melhor gosto.

O sabor do sangue inundou-me a boca em segundos. Amaldiçoei de imediato a honestidade da minha resposta… Se um gajo de dois metros de altura e três metro e meio de envergadura pergunta se somos fulano tal, era fácil de responder… “não conheço, não faço ideia quem seja esse palhaço!”.

O segundo golpe foi cirúrgico, ainda estava a recuperar do primeiro e ele já me assentava mais um na zona entre o fígado e a costela flutuante. É uma dor difícil de descrever, ou que se descreve simplesmente por ser a DOR… agonizante… começa num pico e estende-se por tempo indeterminado. Sustive a respiração, os joelhos cederam e levaram-me ao chão. “Knockout” gritou o árbitro ao centro do ringue enquanto eu ia ao tapete. Cerrei os dentes para conter um lamento em frente de todo o departamento criativo do sétimo andar.

O armário com pernas chamou o elevador e pôs-se a andar sem que ninguém ousasse bloquear-lhe a saída... Foi nesse momento que tive a confirmação que não era propriamente adorado! Cuspi o sangue que me ia enchendo a boca e certifiquei-me que os dentes ainda estavam no sítio. A sensação que tinha era que metade da cara tinha viajado até ao extremo do piso, embatido na parede de betão e voltava em ricochete pela violência do impacto, e à medida que a dor abdominal se ia tornando mais ténue, todo o lado esquerdo da face duplicava o volume. Sentei-me para analisar a situação, aos poucos a respiração normalizava, mas continuava dobrado. Tinha sangue espichado pelo casaco cinza claro e na camisa branca.

Uns saltos em pele de cascavel pararam ao meu lado comunicando que a reunião se mantinha para a mesma hora. Se ela usasse uma capa negra ondulante pelas costas, não a distinguia do Lorde Darth Vader. Eu continuava no chão, no meio do átrio dos elevadores, de orgulho espezinhado. Depois acrescentou que já tinha ligado para os recursos humanos, até contratarem alguém para o lugar, a assistente dela acumulava o meu secretariado.

-Sabes se é casada? Perguntei…
-Não sou casada, mas sou cinturão castanho em judo… respondeu assertiva uma voz atrás de mim. Voltei-me, uns saltos mais modestos seguravam umas longas pernas esculturais até se perderem de vista num vestido curto. A custo levantei-me para a cumprimentar.
-Castanho é antes do preto?
-Castanho é antes do negro… Respondeu num tom sério que condizia com o seu aspecto disciplinado, cabelo apanhado num rabo de cavalo, e estendeu-me um saco com gelo. -E aviso já que escusa de desperdiçar o charme comigo…

A cascavel Darth Vader estava simplesmente siderada, rejubilava no seu mundinho, tentando a todo o custo esconder os sinais orgásticos que toda aquela situação lhe provocava. As suas calcinhas rendadas, visíveis pela justeza da saia, deviam estar encharcadas…. Soltou um risinho maquiavélico, perguntei-lhe de que parte do corpo tinha tirado a pele para fazer os sapatos… Ainda hoje não entendo se sente um fraquinho por mim, ou se me odeia com todas as suas forças.

Dez minutos depois a assistente de pernas longas batia à porta do meu gabinete, estava a trocar de camisa quando entrou com as pastas da campanha.
-Quer que volte mais tarde?
-Não me diga que não está habituada a ver homens em tronco nu no judo?
-Isso está feio… disse apontando para a zona abaixo da ultima costela, mudando o rumo da conversa. -Pode ter partido, talvez seja melhor ir ao médico…
- Se estivesse partido era capaz de ter mais dores…
-Por acaso tem ar de quem está com dores, está meio inclinado para a direita… posso ver?
-Estou sempre inclinado para a direita, é para compensar o peso que está mal distribuído… Ela corou pela minha provocação e depois sorriu.
Tocou-me, primeiro com delicadeza, depois tentou sentir a costela e contive-me para não demonstrar as dores.
-Não parece partida, é melhor fazer um pouco de gelo… vou buscar outro saco.

Deitei-me no sofá e fechei os olhos, finalmente sabia o que sentia uma pessoa que acabara de ser atropelada por um camião… devo ter adormecido por uns instantes porque não dei pelo seu regresso. Só senti os dedos passearem pelos meus lábios, e depois os lábios dela, entreabertos permitindo que a minha língua entrasse curiosa e gulosa pelo sabor da sua boca.

Nos corredores já se faziam apostas… quanto tempo é que ela ia aguentar!
Uma semana depois do espectáculo de luta livre no átrio dos elevadores, uma nova funcionária com setenta anos ocupou o lugar da minha secretária… e outra ligeiramente mais nova foi substituir a assistente da chefe cascavel, que ainda não tinha recuperado do susto e bufava por todos os lados. A minha influência junto da administração permitiu que aquele belíssimo par de pernas continuasse na empresa, mas noutro departamento, noutro edifício, longe dos meus impulsos… mesmo depois de termos sido surpreendidos pela chefe na sala de reuniões, a experimentar a mesa nova!

Lá se vão as apostas!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

T de títere

As lágrimas rolavam-lhe pelo rosto, numa voz sumida apenas disse para a levar a casa, e eu levei. Fechou a porta sem olhar para mim, ignorando-me. O que é que eu fiz? Perguntei mais uma vez. Dois dias depois voltei, sem chamadas atendidas ou mensagens respondidas, voltei achando que a reconquistava. Abriu-me uma frincha da porta, deixando-me ver apenas uma ínfima parte do rosto, o lábio com sardas… as longas pestanas. Pedi para entrar, rastejei, queria vê-la, absorver aquele odor colado, sentir a pele macia sob os dedos, e os lábios… os lábios onde me perdia desejando morrer neles. Viciado nela não lhe larguei a porta até que me deixou entrar, mas afastando-se sempre, desviando o olhar, as mãos ocupadas ou abraçando-se, cruzando-se no seu corpo, fechando-se a mim. Não me faças isto, implorei tentando alcança-la, e em soluços ela disse. Sai. Desaparece.

Acordei na tarde do dia seguinte num quarto de hotel, a luz mal entrava pelo reposteiro pesado, não me lembrava de como ali tinha ido parar, num resquício de memória saia de casa dela e parava num bar. Depois disso só o sabor do álcool. Ao meu lado na cama uma mulata de pele brilhante levantava-se e procurava as roupas espalhadas pelo chão sorrindo para mim. Quinhentos… disse antes de sair. Merda!

Dezoito chamadas não atendidas. Nenhuma de quem eu queria. Paguei o quarto ignorando o sorriso malicioso do gerente que perguntava se estava satisfeito com o serviço extra, pedi-lhe que me chamasse um táxi, e deixei a cabeça descair no banco. Um número privado surgiu no ecrã e atendi na esperança que fosse ela, mas não era. Onde estás? O que te aconteceu? Bombardeou. Não me apetece falar. Respondi. Vou ter a tua casa. E desligou.

Entrei na água fugindo das palavras, mas elas seguiram-me. Sentou-se no tampo da sanita e continuou a encher-me a cabeça com elas. Fechei os olhos e esperei que desistisse, refugiando-me num pensamento distante, sustido no liquido que o chuveiro debitava… Duas chávenas de café depois estava acordado e deixava-me ir puxado pelo braço. Tens de comer alguma coisa, dizia em tom maternal. Tens falado com ela? Perguntei sabendo que a resposta seria sim, mas que o conteúdo me era interdito.
Espalhei o jantar pelo prato e despejei o resto do copo largo pela garganta, sentindo o efeito turvo anestésico do vinho. O arroz não me sabia na boca. Ela tinha planos para a noite mas não me queria deixar, resoluta em salvar-me voltou a arrastar-me com ela mas desta vez para o centro do tornado. Não tinha vontade própria, um títere, ora levantando um braço preso a um engonço invisível comandado pela bebida, ora caminhando um pé à frente do outro, pela ordem que ela queria.

Abanou-me ligeiramente, tinha adormecido com a cabeça pousada em cima do aro da sanita vomitado. O cheiro era indescritível, mas a dor que sentia e que se propagava de forma persistente por todo o corpo, atenuavam os sentidos. Ela estava sentada no rebordo da banheira, o cabelo em desalinho, a pintura dos olhos borratada e um ar preocupado. Como é que vim aqui ter? Perguntei, enquanto me içava apoiando-me no bidé. Sentei-me na tampa e deixei a cabeça tombar para trás até encontrar a parede. O porteiro ajudou-me a trazer-te. Estás bem? Estendeu-me um cigarro que acendeu nos lábios sem batom. Nem por isso… o que é que aconteceu? Não te lembras de nada? Quase nada… jantamos e depois fomos a uma festa, lembro-me do jantar. A sensação era de nunca ter abandonado a casa de banho.
Não te lembras da festa, foste o animador principal! Dançaste com quase todas as mulheres que lá estavam, enrolaste-te com umas quantas pelos cantos escuros, mas nada se compara ao show de striptease que deste junto à piscina… Show de striptease? Não me lembrava de nada, uma outra cara estranha sem nome, vestidos curtos provocantes, bebidas à descrição e a mistura fatal de umas quantas. Não me lembro de nada… diz-me que não despi os boxers! Completamente nu.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

mojitos e ovos cozidos ou sway III

O fumo do cigarro sobe no ar fresco, estou à espera dela. Há quase trinta minutos que deixou a casa de banho e entrou no quarto, e ainda não está pronta. Há uma senhora sentada no prédio em frente, parece abandonada nela mesma, sem reacção, aceno-lhe e ela responde voltando ao mesmo estado de inércia. Já parou a chuva que nos surpreendeu na montanha, estava a dormir tão bem com a cabeça caída sobre o ventre dela, fazia-me caricias entrelaçando os dedos pelo cabelo, quando a trovoada anunciou o dilúvio e foi correr até ao teleférico. Mas foi bom, as roupas encharcadas coladas aos corpos arrepiados, deram azo a um momento tórrido enquanto esperávamos pelo comboio.
A minha bagagem tinha sido entregue no hotel, no dia seguinte voltava para casa. Mas entre o dia seguinte e aquele momento, tínhamos uma noite quente pela frente e depois de tomar um banho e trocar de roupa, estava ali à espera dela, de fato e camisa lavada.
Bateu ao vidro da varanda, o meu queixo quase caiu e com ele o cigarro quase me queimou. Estava fantástica, glamorosa e deliciosa num vestido preto que cruzava à frente. Apeteceu-me devora-la e só não o fiz porque ela travou a porta e fez-me prometer que só depois de lá chegarmos é que me deixava senti-la toda com a língua.

Apesar da fila que se formava à porta do Opera Louge Bar, escusado será dizer que mal chegamos os seguranças fizeram sinal para entrarmos. Aparentemente é igual em todo o lado, ter bom aspecto e ar de quem vai consumir e por isso, desembolsar, é prioritário!
O espaço é imenso e a transbordar sensualidade. Cabines de duche onde raparigas em roupa interior se rebolam umas nas outras provocando os rapazes, dançarinas em gigantescas taças com água, bem acima das nossas cabeças e salinhas privadas com sofás e cortinados pesados mas que deixam transparecer vultos que me vão dando ideias…
Ela caminha ligeiramente adiantada, a minha mão sempre presente ao fundo das costas dela. Entrar com uma mulher assim tão bela, faz com que muitos rostos se voltem na nossa direcção, tanto mulheres como homens, todos a desejam, todos a querem devorar.
Os amigos dela já cá estão, acenam-lhe lá de cima, uma zona mais recatada com mesas e sofás. São simpáticos e divertidos, ela apresenta-me, inclino-me para beijar as raparigas na face, algumas riem outras já de mão estendida, levantam-se e beijam-me a mim. Danço com quase todas elas, ela dança com quase todos eles, mas os nossos olhares cruzam-se vezes sem conta.
–o que te apetece beber? Pergunto ao ouvido, enquanto a minha mão desliza pelas suas costas acima, até à suave concavidade do pescoço.
-Mojitos!
-Mojitos?
-sim, muitos mojitos!
-as suas ordens são um desejo…
Antes de me afastar dela para saciar a sua vontade, agarra-me por um braço e puxa-me, até o meu ouvido estar junto dos seus lábios para me dizer:
-depois quero-te a ti!
E a língua traça a saliva o rebordo da orelha. Estremeço, sinto a pele arrepiar. Preciso mesmo de algo fresco!
Ficamos sentados um bom pedaço, o álcool e o cansaço adormece-nos um pouco, até as línguas começarem de novo a desejar mais, até me apetecer senti-la por fora e por dentro, as minhas mãos já não ficam onde as ordeno, os dedos rasam o decote dela como aves de rapina! E levanta-se, estendendo a mão na minha direcção.
-Vamos? Já não aguento mais…
Entramos no primeiro compartimento despido de vultos. Uma cortina separa-nos do mundo, o desejo separa-nos de tudo. E dispo-me lentamente para ela, sentada e lânguida no sofá. Morde o lábio e prende as unhas no couro. Unhas que me vão marcar as costas, assim que pegar nela ao colo e a possuir contra a parede! E o vestido que cruzava à frente, descruzou-o para mim, também lentamente, e a minha língua cobriu cada centímetro de pele nua do seu corpo que pedia, implorava pelo meu.
A música estridente, sentia-se na batida forte, mesmo assim ofuscada pelo som da respiração e do sangue a correr nas veias. Estava completamente passado com o perfume que ela emanava, excitado, cada músculo tenso para a possuir. Peguei-a pela cintura e penetrei-a, rodeou-me com pernas e braços e levantei-a do sofá encostando-a à parede onde só abrandei o ritmo quando ela se veio. Apesar de ser leve como uma pena, o meu tendão de Aquiles começava a lamentar-se e tive de me sentar. Voltada para mim, sentou-se no meu colo, as línguas escondem-se e encontram-se, ela é insaciável e deixa-me cheio de tesão. Levantei-a e virei-a para ficar de quatro, rabinho levantado para mim, uma visão deslumbrante…e voltei a penetra-la, devagar, muito devagar e bem fundo.
O calor que se fazia sentir era diabólico, a vontade era entrar numa daquelas cabines de duche e acabar lá o que tínhamos começado diante de toda a gente.
Saímos directos para a rua, chamei um táxi e voltamos a casa dela. A vontade não esmoreceu na viagem, as minhas mãos dentro das coxas dela, dentro dela, tocavam-na, mantinham-na em ponto rebuçado, liquida e doce! Voltamos a despir as roupas mais uma vez e entramos na água pela última vez, ela montada em mim, unhas cravadas nos ombros, intenso, longo, até assombroso.
-Tens fome? Vou por uns ovos a cozer…

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

café simples sem açucar ou sway II

Na penumbra do quarto, voltei à cama gatinhando entre as duas, puxei o lençol e junto veio um braço que me abraça e um corpo que se encosta nas minhas costas. De frente para mim, volta-se um rosto que sonha a menos de um palmo do meu. Não as distingo pelo tom ou comprimento do cabelo, muito menos pela íris oculta na pálpebra, mas pelo cheiro distinto, característico que exalam como flores e embriagado pelo perfume volto a cair no sono.

O aroma a café resgata-me do mundo de sentidos adormecidos, e penso na Madame d’Orvilliers que não resistindo aos encantos do jovem tenente Francisco de Melo Palheta, lhe envia um ramo de flores onde dissimuladas, se encontravam escondidas as sementes das quais haveria de crescer o poderoso império brasileiro do café.

Os dedos dela passeiam pelo contorno da minha tatuagem. Sem abrir os olhos e mesmo dissimulado pelo odor do grão torrado, eu sei que aquelas mãos pertencem à dona de uns olhos verdes como limas. E então ela diz:
-Bom dia Romeu remelento!
Para além do café acabado de fazer, há pão quente com manteiga e geleia de groselhas e manga cortada em fatias. Ela senta-se na cama cruzando as pernas e fica a ver-me comer. Tem um brilho diferente nos olhos, talvez da luz que entra plena pela janela, ou então um brilho que já existia e que me passou despercebido.
- Tinha pensado passar o dia de hoje na montanha, caminhar um pouco, levar uma merenda…queres fazer-me companhia?
-depois de um pequeno-almoço destes seria muito deselegante da minha parte recusar. Mas montanha mesmo montanha? Daquelas com terra?
Ela ri perante o absurdo da pergunta.
-sim montanha mesmo, daquelas grandes, com terra, rochas, árvores…!
-o único problema reside no calçado apropriado…
-resolvemos isso no caminho.
-E a tua amiga?
-teve de ir trabalhar, infelizmente para ela, felizmente para…
-e sexo antes de irmos?
-parece-me bem!

Estico-me até alcançar o tornozelo descalço e puxo-a por uma perna para mim, ela deixa-se escorregar e fico sustado sobre ela, tocando-a apenas com os lábios na sua boca, sentindo o sabor prolongado do café, descendo pela linha do rosto, subindo de novo junto ao lóbulo da orelha. E toma a iniciativa dobrando-se pelo ventre, lançando o seu corpo ao encontro do meu ainda nu.
Blusa e calças seguem direcções opostas e encapela-se em mim como a onda faz ao mar, ficando por cima, quase nua. As bocas voltam ao ponto de partida, ao sabor amargo e quente e sinto-me entrar nela, húmida, unida e intensa. Solta-me a boca para soltar um gemido seguido de outro e mais outro e depois outros tantos.

Um banho gelado resfria-me a cabeça, tonifica-me os músculos, levando a água o cheiro delas impregnado em cada poro da pele. Ela está pronta para sair de casa. Uetliberg é o nosso destino.
Bem no coração de Zurique, fica Hauptbahnhof, a estação, um prédio fantástico de 1871 que mistura o clássico com o ultra-moderno. Segura-me a mão e puxa-me para dentro de uma loja, é muito prática e vai direita a calças de ganga, um pólo e sapatilhas, limito-me a tentar lembrar-me dos números. E depois entramos nuns provadores pouco amplos, ela senta-se, livro-me das calças, e ela acaricia-me. Tiro-o para fora e deixo que ela passe a língua de baixo até à ponta, para depois o mergulhar no calor da boca, o pressionar com os lábios, enquanto os seus olhos verdes procuram as expressões de prazer no meu rosto. venho-me.

Troco de roupa e antes de tomarmos o comboio para o sul, deixo ficar as minhas coisas num cacifo da estação. Viajamos sentados frente a frente, conversamos toda a viagem, desde as coisas mais absurdas como comer ananás antes de fazer sexo oral, até aos candeeiros em forma de veados…Caminhamos um bom pedaço, até uma paragem forçada pela fome. Sentamos numa zona com sombra a saborear tanto a paisagem como as iguarias que ela tinha preparado! Vê-se a cidade e o lago, e lá mais ao longe os Alpes.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

sway

Já era de estranhar que depois de duas horas à frente do tapete rolante, a minha mala continuasse sem aparecer. Depois de confirmar que estava no tapete certo, reclamei junto da companhia aérea. Parece que aquele voo para Zurique, era uma escala para Bangkok…por isso a minha bagagem estava em viagem para a Ásia!
A menina simpática do guiché prontificou-se a dar-me indicações de como chegar ao hotel, aproveitei para saber onde podia comprar produtos de higiene, tais como lâmina de barbear, e roupa de homem, já que apenas tinha comigo o meu portátil, e no dia seguinte esperava-me uma reunião e embora tivesse a feliz ideia de viajar de fato, precisava de pelo menos uma camisa e roupa interior lavada!
Os planos iniciais eram de passar o mínimo de dias em Zurique, apenas o tempo necessário para reunir, trocar impressões e dois dias depois estaria de volta ao Porto! Mas ao fim destes dois dias a minha bagagem ainda não tinha regressado e a funcionária da companhia aérea desfazia-se em desculpas, pedindo que permanecesse mais 24h em Zurique, e que para além de me alterarem o voo, ainda me pagavam a estadia e demais despesas.

Depois de um dia complicado em reuniões que mais pareciam aulas de spinning, lá voltei mais morto que vivo ao hotel. Jantei cedo, deitei-me na cama a olhar para a tv e dei comigo a pensar que haveria milhentas coisas mais interessantes para fazer e que afinal, tinha o dia seguinte para dormir.
Entrei num bar simpático, o Splendid, com ambiente descontraído. Sentei-me ao balcão onde não estava ninguém e pedi um whisky. Nas mesas espalhadas, alguns casais e um grupo heterogéneo divertido mais ao fundo. Havia música mas o espaço para dançar não era muito, no entanto isso não era impedimento para que alguns elementos do grupo bailassem entre as mesas! Era o caso delas as duas.
Quando uma música lhes agradava, levantavam-se em simultâneo e dançavam agarradas, ou mais afastadas, mas sempre de um modo muito sensual que cativava os olhares da sala. Eram ambas donas de uma beleza singular, difícil até de descrever ou de nomear qual das duas seria a mais bela. Uma delas tinha cabelo castanho claro, cortado em volta do rosto, e um olhar verde que me mantinha cativo. A outra, de cabelo mais escuro, quase preto, olhos de um azul de mar revolto. Os rostos corados pelo esforço e não só, lábios ao rubro que quase se tocavam.

E os primeiros acordes fizeram anunciar o ritmo alucinante de Sway ! As duas voaram por entre as mesas e sem largarem as mãos começaram a dançar, a poucos metros de onde eu estava. Senti os olhos postos em mim e voltei-me para elas, enquanto fazia pequenos círculos com o dedo na borda do copo. Dançavam agora mais juntas e sem desviar o olhar, provocando com caricias. Bebi o que restava para me dar coragem e agarrei o primeiro braço que se baloiçava à minha frente, os olhos verdes quase que me fulminavam enquanto a fazia rodopiar por baixo do meu braço até a fazer vir ao encontro do meu corpo, e uma outra mão tomava a minha, e um olhar azul enrolava-se, dançando voltada de costas, enquanto a sentia bambolear-se contra mim. Desprendeu-se de mim e voltei a ter frente a frente os olhos cativantes, imensos, e para trás e para a frente a guiava sentindo-a sensual na ponta dos meus dedos.
Quando a música acabou, sentaram-se noutra mesa, afastadas do grupo e atravessei a sala com o casaco no braço e três bebidas nas mãos. Sentei-me junto à de olhos verdes e cabelo mais claro. Perguntaram-me de onde era, e lá contei as minhas peripécias, a minha mala que viajou até Bangkok e a permanência mais prolongada por Zurique. E assim a conversa nasceu, sugestões sobre o que devia visitar, depois falamos sobre as cidades e experiencias interessantes, saltamos facilmente para os costumes, dialectos, gastronomia, e não se sabe bem como, música, livros, arte, cinema…os copos acumularam-se na mesa, não demos pelas horas passarem. Na dança do levanta e vai buscar bebida, acabo por me ver sentado entre as duas. E a de cabelo mais escuro pergunta se pode provar do meu whisky e empurro o copo para a sua frente. –quero provar dos teus lábios. Bebo um gole e as nossas bocas tocam-se, ela lambe o lábio e diz que não é suficiente para sentir o sabor, e volto a beber mais um trago e faço a língua, amarga, seca e alcoólica do malte envelhecido, deslizar dentro da sua boca. – É boa a tua língua, saborosa apesar de amarga! E a outra pede então para provar, mas não da minha boca, mas da boca da amiga, e beijam-se à minha frente, enquanto sinto o deslizar das duas sobre os meus braços, mãos que me tocam nas pernas e que sobem até me sentirem. As luzes começaram a ser desligadas, eram horas de fechar.

Ficamos mais um pouco à porta do Splendid, mas começava a ficar frio e despedimo-nos, o meu hotel ficava na direcção contrária, no entanto o meu desejo era seguir precisamente no caminho que elas tomavam, mas não queria ser indelicado e oferecer a minha companhia, sem saber ao certo se elas a queriam! Então a de cabelo mais claro e olhos de lima leu os meus pensamentos e sugeriu irmos para casa dela, onde podíamos continuar a conversa e tomar um chá quente. Aceitei, não pelo chá, que frio era coisa que eu não sentia!

Quentes pelo chá e pelo ambiente, rapidamente a conversa tomou o rumo que me agradava, e as duas, abraçadas, tirando as t-shirts, perguntavam se alguma vez tinha estado com duas mulheres ao mesmo tempo. E beijavam-se, tocavam-se, as roupas iam sendo libertadas até estarem diante mim completamente nuas, excitadas, gemendo! A língua da de olhos azuis tomava agora conta do corpo da amante, fazendo-a gemer cada vez mais alto, até toda ela se contorcer de prazer. E tomando consciência que eu afinal ainda estava ali, riram e perguntaram se queria participar, abrindo espaço entre elas para me receberem. Deixei que me tirassem a roupa, sentia quatro mãos percorrerem-me o corpo, duas línguas à solta em mim, era absolutamente fantástico, de uma sensualidade inebriante. Senti primeiro o sabor de uma e depois da outra, e entre elas continuavam os afagos, as caricias.
Acordei aos primeiros raios de sol enrolado nos seus corpos nus, perfumados a chá e jasmim, levantei-me trôpego e procurei nos bolsos do casaco o maço de cigarros, vazio.

terça-feira, 19 de julho de 2011

poltrona

Desde que mudei da sala para o quarto, que é raro ele sentar-se em mim. Fui substituída por um conjunto de três sofás novos em pele gasta, Chesterfields segundo os ouvi dizer, numa pronúncia afectada. Um estofo mal encarado e duas poltronas gémeas mais magricelas, diria até anoréxicas, ocupam agora o local de destaque. Acho que até tive sorte, o gigante pachorrento de quatro lugares com quem partilhava o espaço e divertidos momentos, foi levado por homens pouco simpáticos e que cheiravam a sovaco. O meu dono ficou a coçar a barba ao ver-me elevada e a ser transportada porta fora, e decidiu que não estava preparado para se despedir de mim e que cabia num canto no quarto, onde agora posso ficar a admira-lo enquanto adormece!
Mas confesso que tenho saudades das noites que passávamos juntos, em que ele procurava inspiração na largura dos meus braços, enquanto apreciava uma cigarrilha intercalada por um gole de whisky. Por vezes ainda se senta em mim para ler um livro, ou com o portátil pelas pernas, coloca uma manta clara quando anda quase nu, não me concedendo o prazer de sentir a pele dele directamente na minha, aquele calor que emana, tão vivo, impetuoso. Mas pelos vistos isso deve incomodá-lo!

É um bom dono, ofereceu-me um candeeiro de pé por companhia com quem jogo a adivinhar formas nas nuvens que se desenham na janela, e sombras que pairam no quarto, e não tem gatos de garras afiadas, ouvi dizer que são terríveis, deixam-nos furados até às entranhas.
No entanto, se eu possuísse uma cauda como o cão da vizinha do quarto andar, não era a ele que eu mostraria a minha felicidade por o ver, agitando-a num louco frenesim, mas sim a uma das suas amigas. Uma loira de fartos caracóis e perfume caro que me adora, e sempre que vem cá a casa, nem passa pela sala como acontece com a maioria das visitas, atrevo-me a dizer que nunca se sentou nos sofás antiquados de pele gasta. Assim que a sua voz rouca entoa no hall, já estou em sobressalto, as minhas molas estremecem de ansiedade!
Usa vestidos curtos, muito justos a um corpo sensual, libidinoso, e ele segue-a para o quarto, e eu espero pelo momento, em que o meu couro castanho estica, a madeira aglomerada palpita, as costuras quase rebentam de emoção, ele abandona-se em mim, sem se preocupar com mantas ou colchas, e ela coloca-se de gatas aos pés dele, não sei o que lhe faz, o rosto dela desaparece pelo seu ventre, mas deve ser bom porque ele fecha os olhos e inclina a cabeça para trás, e sinto a sua nuca em mim, no meu encosto, o seu cheiro a homem, as mão grandes tensas sobre os meus braços… como é bom!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Costa Brava V e último

Ficamos no silêncio, ocupados em pensamentos enquanto admirávamos a forma levitante do fumo daqueles dois últimos cigarros do maço. O mesmo maço onde ainda se podiam ler desbotados alguns números e um nome, Isabel! E no fumo ondulante vislumbrei as curvas do seu corpo, bem torneado, a pele brilhante e perfumada, sentada na minha perna, aberta para mim, masturbando-se para deleite dos meus sentidos. Depois de me massajar as costas desceu para as minhas pernas e pediu para me virar, verteu o óleo sobre o meu peito e em vez de o espalhar com as mãos como tinha feito nas costas, deslizou o corpo dela em mim, até os lábios ficarem juntos dos meus, mas sem nunca se tocarem. E montou-me, qual amazona de seios imensos reluzentes do óleo, até se esgotar de prazer.

Parecia que não havia mais nada para dizer, e assim que amortalhou o cigarro no cinzeiro, levantou-se puxando a carteira pelo ombro. Segui-a, barrei-lhe a passagem para o átrio colocando o meu braço na porta. Beijei-a nos lábios entreabertos que se preparavam para pronunciar a despedida, num belíssimo e exótico catalã que me encanta!

Umas horas antes em casa de Ferran, uns outros lábios com pronúncia bem diferente encheram-se de mim. Os ataques sucessivos de Táňa por baixo da mesa, deixavam-me sem apetite para apreciar a Paelha, sussurrei-lhe ao ouvido que me seguisse até à casa de banho, o meu apetite feroz por ela havia de ser saciado. E foi. Sentada na pedra fria de mármore italiana, com o vestido subido, bem aberta para me receber, duro dos amassos que me tinha dado. Tentava apertar as coxas, sentia-me esmagado, mas isso só me deixava mais doido e aumentava o ritmo das investidas. “és mesmo um menino mau!” Dizia-me ao ouvido, cada vez que entrava nela com mais força, intercalado com outras frases que não constavam do meu vocabulário!

-Pára Romeu! Deixa-me passar… preciso de me afastar de ti.
-Precisas porque ainda sentes alguma coisa… É isso?
-Preciso porque não passou de uma noite, acabou. Não há mais nada, não sinto nada por ti, és um convencido, deves achar que és o maior, o homem a que nenhuma mulher resiste. Deixa-me ir!

As poucas pessoas que por ali pousam descontraídas numa noite quente, desviam a atenção para nós, o tom de voz dela elevou-se acima da musiquinha de fundo que se faz ouvir irritante e permanente. Os olhos claros enchem-se de raiva.
-Esperanza, por favor, podemos ir falar para um sítio mais reservado? Não gosto de dar espectáculos gratuitos…
-Não vamos para o quarto, nem penses!

O quarto… aquele que no dia anterior tinha recebido uma visita inesperada, o receoso bater na porta afinal nada tinha de tímido, com o pretexto de usar o meu portátil deixei-a entrar, mal abri a água do duche e a recebi ainda morna, senti as mãos dela percorrerem-me o corpo sem qualquer pudor. Mesmo no meu estado debilitado, ergui-a contra a parede e penetrei-a, sem paixão. Trinta minutos depois estava pronto.

Esperanza “tiene su raíz en la palabra latina spero, esperar", e tinha sido isso mesmo que ela tinha feito, esperar pacientemente por aquele momento. A última vez que nos vimos foi no escritório de Ferran após a minha discussão com este, despedi-me dela contra a minha vontade, abracei-a em mim na tola esperança de a poder levar comigo.
Subimos ao quarto, insisti no beijo, mostrei-lhe como estava desejoso dela segurando a sua mão contra o meu sexo. E depois toquei-a por cima da roupa, massajando-a ao de leve pelo meio das pernas fechadas, pelo peito que transparecia excitação. Contra a porta de entrada desceu-me e abocanhou-me, do jeito que só ela sabe.

O mesmo sonho de dunas de areia que se acumulavam no infinito voltou a assombrar a noite, ficava preso na areia, sem conseguir sair, ia sendo engolido. Uma chuva fraca batia nas janelas, deviam ser umas três da manhã quando acordei, enrolado nela e no lençol. Levantei-me trôpego necessitado de água e um cigarro. O maço vazio parecia perguntar: que foste tu fazer Romeu?

Conclusão, a Esperança é sempre a última a “morrer”!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Costa Brava IV

O jantar aguentou pouco no estômago. Uma pena, aquelas costelinhas de borrego bem caramelizadas, temperadas a meu gosto, estavam divinais! Náuseas, tonturas e tremores, mas só sinto calor, um calor infernal. Volto a deitar-me depois de um banho de água fria, as dores de cabeça não desaparecem, mas aquela sensação febril dissolve-se aos poucos.

Não tenho ilusões de fechar os olhos e dormir. Penso naquela que me trás cativo no seu abraço, nos lábios cobertos de sardas que nunca me canso de beijar. Nem três dias passaram desde a última vez que estive com ela, e as saudades já me fazem delirar, ou então é da febre. Talvez seja a distância e não as horas que levam dias a passar… Tomamos o pequeno-almoço juntos na sexta-feira antes de me deixar no aeroporto. Ela gosta de café com leite morno, e coloca apenas uma colher de açúcar. Fico a observar os seus movimentos delicados, enquanto está distraída com uma mensagem que acabou de se anunciar com um simples toque no telemóvel, nunca a colher bate na chávena enquanto mexe o açúcar, reparei que faz o mesmo com o café. Depois levanta o olhar para me encarar e pergunta:
-que foi tonto? Não respondo, desvio o olhar para o jornal aberto nas páginas internacionais. E ela continua.
-a Ju convidou-me para ir passar o fim-de-semana a Ofir!
-aproveita, está bom tempo…
-não sei, tem sempre lá em casa uns amigos estranhos…
-estranhos como eu?
-sim, estranhos como tu, alguns até mais giros que tu! E sorri envergonhada pela provocação que me atirou.
Levanto-me do banco alto junto ao balcão e aproximo-me dela, aparto-lhe as pernas e encosto-me, puxando-a com força para mim, beijo os lábios doces de café com leite e compota de mirtilo.
-mais giros que eu?
-vais perder o avião!
-ainda temos vinte minutos…
Ela desce do banco, ignora-me e leva a chávena vazia para o lava-loiça, sigo-a, beijo-a no pescoço, passeio as mãos pelos braços, costas, ancas, transpondo a blusa pelo ventre. Espalmada a mão desce por dentro das calças bem justas, por dentro da lingerie, para fazer os dedos entrarem nela, ligeiramente húmida. Deixa-me doido, a rebentar de tesão, desaperto-lhe as calças e faço-as descer até aos joelhos, inclina-se um pouco para sentir os meus dedos mais no fundo. Pede-me dentro dela, e obedeço, sem grandes cerimónias e com alguma impetuosidade! Sinto-a quente, cada mais mais molhada, cada vez que a penetro procuro que seja mais e mais fundo, no limite paro, sem autorização para me vir dentro dela.
-vem-te na minha boca. Disse com uma voz rouca dos gemidos.

Acordo com o barulho que vem da porta, um bater fraco e receoso. Estou completamente encharcado, como se tivesse adormecido numa poça. Visto umas calças antes de abrir e para meu espanto é a Kate. Acho que se nota pela minha cara que a noite não foi pacífica, pergunta se estou bem, se vou descer para o pequeno-almoço. Peço-lhe uns minutos para tomar banho e fazer a barba, enquanto isso aproveita e pede para usar o meu portátil, o dela ficou sem bateria e o carregador não é compatível com as tomadas europeias.
Meia hora depois estou pronto, tomamos o pequeno-almoço, e vamos a pé até ao edifício onde ficam os escritórios da filial de Barcelona, a manhã fresca e as ruas limpas convidam ao passeio. O dia corre tranquilo, à volta da mesa oval onde se sentam os mesmos intervenientes do dia de ontem. As caras são as mesmas, uns mais tingidos pelo sol, mas as posturas e atitudes são complemente distintas, discute-se trabalho e apenas trabalho.

O sabor salgado do sangue misturava-se com o doce da chiclete, precisava mesmo de um cigarro, aquele mastigar plástico deixava-me ainda mais nervoso, mais necessitado do vício e morder o interior da boca era o limite da minha resistência. Ferran convida para jantarmos em sua casa, mal toco na comida e no vinho. Regresso cedo ao hotel, ainda tenho a mala por fazer.
Já estava deitado, a reduzir lentamente o meu estado de consciência, entrava num sonho como quem tropeça num paralelo, dunas de areia acumulavam-se num deserto infinito, quando o telefone tocou. Da recepção do hotel pediam para eu descer, uma mulher esperava por mim no bar. Foi com surpresa que recebi a assistente de Ferran, pedi um chá para mim e um whisky para ela, junto à piscina nas cadeiras de lona.
-Pensei que estavas de férias!
-E estou, convenientemente de férias…! Estás com má cara Romeu, e a beber chá, saudades minhas?
-Nem imaginas… ainda ontem pensei em ti!
-Também tenho pensado em ti, e até há pouco estive a ponderar se havia ou não de vir falar contigo. Quem diria que uma noite podia ser tão marcante…
-Gostei muito daquela noite!
-Eu também, mas não passa disso mesmo, uma noite. Precisava de te dizer isso cara a cara, para que não haja equívocos, falsas esperanças…
-Ainda bem que vieste, ainda bem que falamos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Costa Brava III

Com a palma da mão aberta procurou sentir um tesão que não havia dentro dos calções.
-Agradas-me Romeu, põe-no duro para mim!
-Querida, vais ter de te esforçar um pouco mais…
-Tu és mau! eu gosto de meninos maus. E consta por ai que tu gostas de “comer” secretárias!
Não gosto desta constatação e liberto-me do aperto constritor, deixando os braços de pele suave mas letais, livres para receberem Ferran. Saio da água e deito-me ao sol sem me secar, procurando nuvens num céu demasiado perfeito. Fecho os olhos para receber a imagem nítida dela deitada ao meu lado, distante num sonho de “uma chuva que não sendo chuva mas talvez humidade, tocava na pele nua e sobre Barcelona às escuras, como uma bênção”!
Ao mergulhar nos cabelos claros de quem chamei Julieta, voltava a sentir aquele cheiro de longe, despertando a memória de uma única noite muito intensa. Assim que entramos em casa dela, tinha sido empurrado contra a porta, baixou-me as calças e abocanhou-me o pénis, concretizando o desejo bem explícito. As roupas foram sendo abandonadas a caminho do quarto, e quando já não havia nada para despir, sentou-se na beira da cama e puxou-me para ela, desejando mais uma vez sentir-me bem duro na sua boca, pressionado contra os lábios. Puxei-a para mim e beijei-a, e fiz com que a língua sentisse todos os sabores do seu corpo, até a libertar num gemido delirante. De joelhos na cama esperei, e ela abriu-me as pernas pedindo que entrasse nela sem pronunciar um som, sem uma única palavra naqueles lábios inchados e rubros sempre ofegantes.

A claridade atenuada deu-me esperança de nuvens carregadas de um dilúvio virtuoso, mas era apenas a sombra projectada em mim do chapéu largo de Kate.
-Estás bem? Perguntou baixinho…
-Já estive melhor. Devo estar a desidratar, queres que te traga alguma coisa para beber?
-Pode ser água fresca sem gás se houver.
Desço à cozinha e na passagem estreita cruzo-me com a Táňa, parece que el catalãn não deu conta do recado, e o desejo não foi nem um pouco refreado. Lambe a mão com saliva e faz corre-la ao longo do meu membro, desta vez mais duro dentro dos calções. Propõem-me uma sessão de sexo oral, e faz tenção de se ajoelhar para manifestar a sua devoção. No limite de cair no abismo daquela boca com pronúncia checa, recuo, desculpo-me, procuro a tona de água para não me afogar!

Com a palma da mão aberta sentiu o tesão não contido dentro das calças.
-De certeza que não queres mais nada?
-O que fizeste já foi suficiente…
-Nem uma massagem? só para relaxares um pouco, estás um pouco tenso… E sorri mordendo o lábio vermelho, baixando o olhar na direcção da tal tensão!
Desaperta-me a camisa e eu deixo. Da bolsa tira um óleo de massagens e um elástico com que prende o cabelo preto reluzente no topo da nuca. Continua nua, a pele perfeitamente bronzeada à excepção da zona púbica, e tiro as calças voltado de frente para ela.
-Tira tudo, não te quero sujar com óleo.
E ficamos nus, em contrate de tom, sem sentimentos de superioridade oferecidos a quem se despe perante o outro. Apesar deste preconceito, nunca me senti acima dela enquanto se despia e dançava para mim, pelo contrário, deixou-me sem controlo das minhas vontades, entregue ao deleite dela que aparentemente se despia para meu prazer. Deito-me de bruços no lençol aberto para trás e ela senta-se ao fundo das minhas costas. Verte um pouco de óleo sobre as mãos e depois desliza-as ao longo da espinha, fazendo compressão, desde o ponto mais próximo do seu sexo quase desprovido de pêlo, até ao meu pescoço, rodando pelos ombros, puxando-os e retomando o percurso inverso.

-Coño! estás bem? Estamos na rua à tua espera… ainda vais demorar? Vem-te lá!
-Estou a descer. E desligo.
Adormeci e ela já não está. Visto-me meio perdido na escuridão do quarto, antes de sair lavo os vestígios de sono da cara, preciso com urgência dum cigarro.
-Então que tal a “chica”?
-Fantástica…
Ferran tem um sorriso pérfido agarrado aos dentes que se traduz em qualquer idioma num “eu bem te disse!”, obriga-me a pisar o vício antes deste chegar ao fim, entrarmos no carro estacionado a poucos metros dali. Deixa-me à porta do hotel, para eles a noite ainda vai continuar carregada em pecado e luxúria, por mim já chega, só me apetece sentar numa daquelas cadeiras de lona crua do exterior, junto à piscina, e beber uns whiskys, fumar uns cigarros, esperar em vão que chova.
“Se algum dia te sentires sozinho em Barcelona, liga-me! Gostei de ti.” Está escrito a lápis preto no maço de tabaco, já ligeiramente esborratado pela passagem distraída dos meus dedos. Tiro o último cigarro antes de ir dormir, deixou o nome e contacto.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Costa Brava II

-Estou à porta daqui a quinze minutos. E desligou.
A desastrosa combinação de vários whiskies no hotel depois de ter bebido uma considerável quantidade de champanhe na insanidade nocturna, resultaram numa sensação de perda de memória, e um peso bem acima do normal sobre os ombros. Aos poucos levantei a cabeça com receio que esta resvalasse pelo pescoço, já me lembro de onde estou.
A perspectiva de um passeio de barco pela Costa Brava, assemelhava-se a um filme de terror. Um quarto de hora depois do telefonema de Ferran, estava na entrada do hotel, desperto por um banho e a tentar afogar a ressaca num litro de água mineral com sabor salobro e duvidoso.
Reparo que há uma mulher de chapéu com abas largas num vestido curto azul-marinho, segura um copo da starbucks na mão e dirige-se para mim, tira-me os óculos de sol, e só nesse momento reparo que se trata da nova parceira do grupo, Kate a norte-americana.
-Que noitada! Segura aqui no meu café… Vasculha na mala por algo e lá encontra uma bisnaga no meio do caos, com grande lata passa o dedo com creme pela zona inchada abaixo dos meus olhos.
-o que é isso?
-Hemorrhoid cream! E mostra um sorriso bem traquina no rosto que é novidade para mim. - Para ficares mais bonito!
-Mais bonito é impossível! Isso não é perigoso?

Nem parece a mesma pessoa que ontem ao almoço perguntou emproada no seu ar de superioridade, se Portugal era uma província de Espanha ou de Marrocos. Pousei os talheres na borda do prato com toda a calma do mundo, mas Ferran receoso da resposta que podia sair da minha boca, interrompeu-me antes de eu ter tempo de limpar qualquer vestigio de peixe ao guardanapo, e explicou que Portugal e Espanha eram países fronteiriços, com um passado por vezes comum, mas com cultura e línguas distintas. E então ela pediu para eu dizer algumas palavras em português.
Bebo um trago de vinho antes de começar, el catalã respira fundo, acho que consigo ver pequenas gotas de suor a crescer na sua testa!

“(…)-Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...”

E continuo a comer, deliciando-me com um linguado grelhado que só sentiu o sal. Voltamos a falar durante a tarde, concordando com as mesmas ideias, sem discutir mais nada para além de trabalho.

Quem diria que na manhã seguinte à porta do hotel protegidos na sombra do toldo, ela estaria preocupada com a minha aparência. Ferran trava bruscamente, parando no meio da rua, apita causando estardalhaço. Seguro a porta do carro e ela senta-se no lugar da frente. No banco de trás já se encontra a secretária do “tcheco”, Táňa.
- Lá vou eu prevaricar! Reclamo, o carro não é suficientemente largo para me manter a uma distância mínima de três metros dela, e curiosamente não parece nada aborrecida com isso. Cumprimenta-me com dois beijos, passando a mão pela barba que não tive tempo de aparar.
Ferran possui um veleiro com 14 metros de envergadura, fala nisso constantemente quando estamos juntos, sempre que a conversa não é “gajas”, talvez seja um sintoma de SPP!
Como o tempo está favorável para a vela, vamos passar o domingo a passear junto à costa. As senhoras estão a bronzear-se na parte da frente do convés, nós os três ficamos na área dos homens, a beber cerveja (eu continuo a água!) e a contar os mais ínfimos pormenores da noite de ontem, começo a ficar enojado, é quase como ir ao Bagdad ver sexo ao vivo. Sou salvo pelo aceno de Táňa no seu micro biquíni, que pede para lhe colocar protector solar nas costas. Quando termino pergunto à Kate se também quer, ela diz que não precisa mas oferece-se para pôr em mim. E sento-me na frente dela, de costas voltadas, sinto o primeiro contacto frio com o líquido e depois as mãos quentes dela a massajarem, carinhosamente.
-Perguntei a Ferran se tinha entendido alguma coisa do que me disseste ontem em português. Só sabe dizer que não foste mal educado!
-Foi um excerto de um poema de Álvaro de Campos. E traduzo para um inglês limitado em palavras.
Táňa que está atenta à conversa pergunta como se diz: vamos dar um mergulho?
E vamos, eu salto primeiro, mergulhando de cabeça, depois salta ela dando gritinhos histéricos, afugentando os tubarões. Ferran na proa inclinado faz troça quando ela me abraça dentro de água e faz intenções de se enrolar em torno de mim como uma moreia diabólica.
-Queres que te atire a bóia de salvação monogâmica?
Mas o Jurgen já bebeu demais para ser atirado ao mar.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Costa Brava I

Na noite anterior tinha conseguido dissuadir Ferran, desculpando-me pelo cansaço da viagem e do acumular de horas sem dormir. Mas hoje não tinha desculpas e a contrapartida era deixa-lo decidir para onde íamos depois do jantar. Desta vez éramos só três, eu, Ferran e Jurgen, o austríaco! Petr o ”tcheco” foi operado e mandou a secretária no seu lugar, com o aviso de eu me manter a uma distância mínima de 3 metros dela. Do novo grupo de reuniões também faz parte uma americana, mas as senhoras não são convidadas para o serão nocturno.
Percorremos as ruas sempre vivas da cidade, as Ramblas iluminadas, cheias de corpos calientes.
-Bagdad não por favor! Suplico a Ferran, que ri como um idiota.
-Como é que conheces o Bagdad?
-Foste tu que me levaste lá cabrón, já não te lembras?
-Qual o problema do Bagdad? Pergunta o austríaco. Ferran continua a rir enquanto nos afastamos dos limites luminosos do néon do Bagdad. Nenhum dos dois responde, é dos clubes de strip mais deprimentes em que já entrei. Ferran promete um sítio com classe, um misto de discoteca e clube de strip, e ainda umas amigas especiais para apimentar a coisa.

A disco está apinhada, a música bem alta deixa os sentidos atordoados, e nem reparo nas raparigas que dançam quase despidas e nas empregadas quase vestidas! Ferran fala-me ao ouvido que a morena é para mim, e entrega-me uma chave de um dos quartos do segundo andar. Devolvo-lhe a chave.
-Não recuses antes de a ver!
-Não estou interessado…
-Tás doente?
-monogâmico…
-isso pega-se?
-se te beijar é possível!
-maricon de mierda!!! Sorri e dá-me uma palmada nas costas.
–Não leves a mal Romeu, até és um homem bonito, mas não gosto de barba!
-não é isso que dizes quando tens a minha verga na boca! Cabezona!!!
-Pendejo!

Jurg não entende nem uma palavra, e é melhor assim, um germânico não consegue compreender este tipo de linguagem muito própria entre dois machos latinos!
-Mas faz-me um favor Romeu, sê simpático com a rapariga, bebe um copo, conversa um pouco…
Elas já estão numa mesa redonda sentadas num sofá preto em semicírculo, a morena levanta-se e ri para mim, mas o sorriso não dura muito quando Ferran lhe entrega a chave e fala qualquer coisa. Com um ar mais sério espera agora que lhe sirva uma taça de champanhe, começo pela loira platinada sentada junto a Jurgen, depois sirvo a outra rapariga que se encontra entre a loira e Ferran e por fim a morena com os olhos brilhantes mas tristes. Só depois os cavalheiros e deixo-me ficar para o fim, batendo com o meu copo no dela antes de beber. Ela recupera o sorriso, mas só nos lábios.

Tentamos conversar um pouco, o barulho não dá para muito, e o meu espanhol está longe de ser perfeito! Ficamos sem jeito quando os outros se levantam e nos deixam sozinhos, o sorriso volta a desaparecer e a ficar condizente com o olhar. Pergunto se quer fumar um cigarro, ela aceita o convite. Perto do bar existe uma zona aberta que dá para um pátio com uma pequena queda de água iluminada, sentamo-nos na pedra que acompanha a água. Hoje não chove. Recusa o cigarro, diz que lhe sabe bem aquela pausa do barulho e do ar quente, e pergunta se não a acho interessante.
Explico que recusei a lapdance privada antes de a ver, por isso a minha decisão nada tem a ver com o facto dela ser interessante ou não, mas depois rematei dizendo que a achava muito bonita, com um corpo fantástico, muito sensual.
-Ferran disse que ias adorar…!
-E adoro, mas neste momento não estou interessado.
-aceita a lapdance por mim! Deixa mostrar-te como sou boa no que faço.
-Desculpa, mas não estou com espírito para isso…
-Por favor! Sou uma profissional, vou ficar com a sensação que falhei, que sou incompetente! O teu amigo já pagou, mas se calhar nunca mais volta a pedir os meus serviços…compreendes?
Compreendo e apago o cigarro.

Subimos pelo elevador até ao segundo andar sem trocar um olhar ou uma palavra, o quarto era pequeno, com casa-de-banho, cama e uma poltrona onde ela pede para eu me sentar. Há uma aparelhagem onde liga o mp3 e escolhe umas músicas. O ambiente à meia-luz deixa-me quase na escuridão, e começa a dançar com movimentos lentos e lânguidos, bem na minha frente, no meio das minhas pernas, tocando-se no peito e nádegas através da roupa, roçando nos meus joelhos ao de leve. Depois tira o top curto e continua a tocar-se, até ficar com os bicos bem destacados. Curva-se de costas para mim, as calças justas fazem sobressair um traseiro fantástico que ela rebola ao som da música e faz descer pelas pernas as mãos, tocando de novo as nádegas e terminando o percurso passando a mão pelo meio das pernas.
Senta-se no meu colo, roçando devagar no meu membro já duro e levanta-se de novo para desapertar as calças, baixando-se para as tirar, deixando apenas um minúsculo fio dental. Volta a subir apoiando-se nas minhas pernas, inclinando o corpo em direcção a mim, quase roçando o peito, e os lábios abertos num sorriso param junto dos meus e pergunta se estou a gostar, digo que sim, mas nem era preciso porque se nota.
Senta-se na perna e coloca o pé na minha outra perna como se fosse um estribo, tira a calcinha e mete dois dedos dentro dela, e satisfaz-se assim apoiada em mim, enquanto me limito a observar. Volta a sentar-se no meu colo, apoia as mãos nas minhas pernas e faz pressão contra mim, roça-se num movimento continuo. Coloco-lhe a mão no ombro, dando indicação para parar. Ela vira-se e pergunta se quero mais alguma coisa.

domingo, 19 de junho de 2011

Ensaio sobre os pés dela

Entro na cama na escuridão que envolve o quarto, ela já dorme e não quero que acorde. Os olhos habituam-se gradualmente à falta de luz e as formas vão-se tornando distintas. Primeiro o vulto dela encolhido do outro lado da cama e depois as feições vão aparecendo no seu rosto tranquilo e feliz na almofada. Sonha com um riacho que corre frio por entre blocos de pedra, em tempos libertos de uma outra rocha, e saltita descalça por eles, descendo o rio até o encontrar numa cova funda onde amansa e as águas descansam. Chapina com o pé na superfície quase parada, criando gotas como pequenas rãs que saltam em todas as direcções. Completamente nua de roupas e pensamentos, entra na água lentamente, dando a conhecer ao corpo o contacto diluído do frio, e desaparece à tona, mergulhando até ao fundo colorido de seixos.
Tenho os pés frios! Murmura quase indistintamente sem abrir os olhos, desperta pelo desconforto que lhe habita nos pés, desde os dedos pequenos, perfeitamente alinhados, até aos calcanhares macios e magros em sapatinhos de cristal. Aconchega-se no calor da minha presença. Suspira de pés entrelaçados nas minhas pernas como uma trepadeira que procura a luz e adormecemos.
Enquanto o sono se aprofunda num abismo, o sol entra na noite apenas naquele espaço, naquele quarto. O rio transborda paredes e corre pelo soalho e onde havia um tapete, há agora águas cristalinas. Os móveis retornam à madeira e a madeira em floresta brota das gavetas. Por fim a cama eleva-se e transmuta-se em rocha quente exposta à tarde de raios solares. Abre os olhos, verdes como rebentos vivos de folhas, e passa os dedos ainda molhados pelo meu cabelo dizendo, agora também entras nos meus sonhos? Entrei sem fazer barulho e segui as pegadas molhadas que os teus pés lindos deixaram na pedra.

sábado, 18 de junho de 2011

K de kaphar כפר

-É aqui que vive o Diabo?
-Quem quer saber?
-Uma pecadora arrependida em busca de penitência.
-Então entra… e que comece a expiação!
Encosto-a à porta da entrada, ela procura o beijo, eu procuro o cheiro inebriante que liberta, aspiro cada partícula escondida, desde a dobra da orelha, em sentido descendente pelos ombros, seios, sinto-a em vertigem quando a mão transpõem o vestido, e a agarro bem sentindo-a húmida por baixo do tecido que lhe cobre o sexo. Liberto-a.
Ordeno-lhe que se dispa e que me espere no quarto, enquanto isso abro uma garrafa de champagne e derreto chocolate. Está sentada na cama, olho-a tranquilamente e digo-lhe sem sombra de hesitação que coloque o meu pénis na boca aproximando o meu abdómen à sua cara. Ela executa a ordem. Gosto de dissertar sobre assuntos filosóficos enquanto ela me chupa.
- O verbo hebraico equivalente à palavra expiação é kaphar, vocábulo que significa “cobrir”…curioso! Trouxeste as algemas?
Ela não pode responder, mas o olhar é afirmativo. Prendo-lhe os pulsos à cabeceira da cama. Rego-lhe o corpo com chocolate bem quente, começando desde os peitos até ao interior das coxas, ela geme e mando-a calar, dizendo que um bom penitente ora em silêncio! Ela sabe que a minha língua vai seguir o trajecto escuro do chocolate, espera ansiosa. Dispo a camisa e depois as calças, sempre tudo num ritmo lento, a excitação acumula-se. Por fim dou-lhe esse prazer, mas sem a penetrar, ao de leve os meus dedos tocam nos seus lábios bem húmidos, e depois circulo com a língua na pele macia e elástica do interior da coxa.
Derramo o champagne, frio, o corpo estremece, pelo peito e em direcção à boca, a língua pede, procura e o líquido escorre pelo seu corpo, entranhando-se por todos os poros.
-Lambe-me! Implora.
-Não estás aqui para fazer exigências…
Coloco o gargalo da garrafa fria no meio das suas pernas, esfrego-a mas sem a fazer entrar, deixo-a num estado de loucura.
-peço-te por favor, penetra-me, não aguento mais…
E faço-lhe entrar dois dedos, três, quatro, até ter os cinco dedos dentro dela…ela não consegue conter e vem-se ofegante sem gritos. A minha mão pinga o liquido dela, dou-lhe na boca para se provar a ela própria.
-Prova como és saborosa…Lambe-me os dedos, fazendo rolar a língua sobre eles.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

R de remelento e não me lembro

Ela gosta de me ver sair a gatinhar da cama dela, diz que saio nu, mas que não se lembra de nada, não sabe como entro, se entro a gatinhar nu como saio, não sabe, só sabe que entro. Também não me sabe dizer se a procuro esfomeado como um gato, se me debruço sobre ela e me deleito como um gato num pires de leite no meio das suas pernas, não sabe! Não sabe se a percorro com os dedos ou se com a língua, ou se nem percorro nada e se simplesmente a penetro fundo. Volta a dizer que não se lembra… não sabe mesmo, não sabe se fico por baixo ou por cima, se fica de bruços enquanto a possuo, se geme enquanto lhe mordo o pescoço. Só sabe mesmo é que saio nu e a gatinhar, e pede-me que lhe acenda um cigarro. Depois diz: gosto do teu rabinho Romeu remelento!


quinta-feira, 9 de junho de 2011

A de aniversário, aquisição, alvarinho e de algo mais

Abre o embrulho pesado em cima do balcão da cozinha.
-Uma caixa de duas quintas, e de noventa e seis…Romeu tu sabes agradar!
-Espero que esteja bom.
-De certeza que está delicioso como tu. És um querido, obrigado por teres vindo, vou buscar um decanter, abre já uma…Já me esquecia de te dizer a Maria deve de estar ai a chegar…
-Vamos voltar à mesma conversa de ontem?
-Não precisas de ficar chateado, estas situações não te costumam afectar…que se passa meu querido?

A conversa que tivemos ontem ao almoço nunca se afastou muito sobre o meu encontro com a Maria, evitei a todo o custo comentar o que aconteceu naquela noite, apesar da insistência da Ju. Na altura em que o café chegava à mesa, ela voltava ao ataque.
-Tu não queres falar do que aconteceu mas olha que ela não se inibiu…não disse muito é certo!
O café é extraviado para a laringe por falha da epiglote, tusso compulsivamente, vou a tempo de apanhar um jacto no guardanapo!
-Tás bem? Pergunta com um ar de gozo na expressão.
-Ela disse que eu era fraquinho na cama?
-Sim, normal assim para o fraquinho, nada de extraordinário, até fiquei admirada e perguntei se estávamos a falar do mesmo garanhão!
Odeio essa expressão e a sensação de uso que ela me deixa. Odeio esta conversa e todos os contornos que ela toma. Mudo de assunto como quem procura uma saída, pergunto o que quer de prenda de anos.
-Um colar de diamantes!

Apesar de não estar o tempo de ontem, até se está bem junto à piscina, o céu encoberto ameaça chuva por isso improvisou um toldo suspenso por cima da mesa. A aniversariante está deslumbrante num vestido fresco e descontraído que pede um passeio de iate!
-Tão típico teu oferecer vinho a uma mulher!
-É para que não te esqueças do valor da idade, do amadurecer…
Ela ri alto como sempre faz, balançando o copo de tinto na mão.
-Ainda bem que lembras isso, anda cá, vou-te apresentar a minha mais recente aquisição…
Aquisição no vocabulário da Ju é uma conquista, um namorado, coisa que eu nunca fui nem tive intenção de algum dia ser. Dentro da piscina lá está a “aquisição”, parece um puto que acabou o secundário, levanta-me o braço de mão aberta à espera de algum cumprimento “porreiro”, limito-me a um esgar e mantenho as mãos nos bolsos, vou lá molhar a minha imaculada camisa!
Depois apresenta-me uma morena lindíssima, madeixas curtas e olhos escuros, toda ela curvas bem delineadas, mas com ela a namorada, uma Sílvia.
-Tu não te deves lembrar da Sílvia mas ela lembra-se de ti…
E desatam à gargalhada as três…a Sílvia é a terceira amiga que estava a tomar chá, naquele fatídico dia em que me lembrei de enviar a foto à Ju! Mais um momento memorável na minha vida!

É usual acontecer, quando penso que pior não pode ficar, logo a seguir fica. A Maria chega, e vem acompanhada, e mal somos apresentados, o idiota faz uma piadinha com o meu nome. Já estou habituado e normalmente a resposta mora na ponta da língua, mas não sei porquê não saiu nada, limitei-me a um sorriso amarelo. O almoço só não foi pior porque a comida estava deliciosa e um alvarinho bem fresco escorregou-me nos sentidos. Mas a Ju não desistiu das suas intenções e começou a fazer tudo para que eu ficasse sozinho na cozinha com a Maria, pedindo aos dois se não nos importávamos de ir buscar a sobremesa. O regresso rápido ao jardim, fez a Ju perder a paciência, depois do café puxou-nos à cozinha sem pretexto e acabou por confessar que tudo o que me tinha dito era mentira, que a Maria nunca lhe contara nada sobre aquela noite…
Fiquei furioso e sai porta fora, sem dar hipóteses dela se explicar, senti que a Maria me seguia, segurou-me pelo braço.
-Tem calma, eu não sei ao certo o que foi que ela te disse, mas é o feitio dela e de certeza que não o fez por mal…

Contei-lhe tudo, enquanto caminhávamos junto à praia. Ela riu.
-És um tolo, achavas mesmo que eu ia dizer uma coisa dessas?
-Sei lá…
-Eu gostei muito daquela noite, e tenho a certeza que tu também gostaste…vou ser muito sincera contigo, tinha uma ideia completamente errada de ti. Quando te vi no supermercado não resisti em provocar-te, achava que te ias armar em Don Juan mas reagiste de uma forma que me surpreendeu…não estava nada à espera, ficaste perdido, retraído! Mas contigo nunca se sabe, pois não? No bar quando te dirigiste a mim, estavas lá em cima, seguríssimo de ti e dos teus encantos…
-Nunca estou seguro contigo.
-Já deu para perceber…vamos voltar? Estou a ficar com frio.
Tiro a camisa e ela veste a pele arrepiada dos braços.
-Tens um escaldão. Diz enquanto passa os dedos no meu pescoço.
Beija-me a pele vermelha, beijos ternos, em bicos de pés continua a subir pelo pescoço até à boca.
Voltamos a casa e nem dão pela nossa entrada por uma janela de correr ligeiramente aberta no jardim da frente, ela devolve-me a camisa e ao chegarmos ao hall  puxo-a para as escadas.
-Tás louco!
-Anda...
-Nem penses, Romeu...
E beijo-a, pendurado três degraus na escada com balaústre em madeira. Um beijo demorado, só de lábios amarrados em lábios. E ela segue-me escada acima. Entramos num dos quartos de hóspedes, famintos pelos lábios, dedos, célula por célula dependente do desejo de ter o outro.

terça-feira, 7 de junho de 2011

M de Maria

J…
K…já era. Não há pachorra para a Kiki
L…Lara…com namorado.
L…Leonor…a trabalhar em Londres.
L…Liliana…só de pensar naquela deusa, as veias tremiam…não atende!
L…Lurdes…hum, longe.
M…aquela amiga da Ju, a Maria…volto ao J de Ju…

-Romeu meu querido, péssima altura para me ligares, estou aqui com um pedaço uns bons dez anos mais novo que tu…que vigor!
-Menos Ju…
-Não tem a tua imaginação, muito menos a experiência…mas tem potencial!
-Dispenso os pormenores…
-Já te ligo meu querido.
-Mas Ju eu só…
-Eu sei o que tu queres…espera que já te ligo.
E desliga o telemóvel. Trocado e ignorado…isto é péssimo para o meu ego.

Volto ao M…
Uma mensagem da Ju com um contacto e liga logo de seguida.
-Era isso que querias?
-O contacto da Maria?
-Sim…
-Como é que sabias?
-Já estava aqui a pensar que devias de estar doente…ou que te tinha acontecido alguma coisa, desde que ela me contou o vosso estranho encontro no supermercado que tenho estado à espera que me ligues a pedir o número dela.
-Pois…foi constrangedor!
-Imagino! Como eu gostava de ser uma mosquinha e ter assistido a tudo!!! Pelo que ela me contou tu ficaste com uma cara...
-Até me caiu mal o jantar!
-Tu és demais, provocas as situações e depois não queres assumir as responsabilidades. Também ouvi dizer que estiveste em Barcelona…
-É…andas bem informada! Olha...não estavas ocupada?
-Ai! Está a recuperar para o terceiro round!
-Não me faças isso, já me bastou o que aconteceu ontem…
-Não queres falar disso?
-Nem pensar…
-Então fala-me de Barcelona, constou-me que tiveste um pequeno quid pro quo com o Ferran por causa da assistente dele!
-Nada de mais, está resolvido…
-Tu não tens emenda, não resiste a um rabo de saias…eu não te encho as medidas Romeu?
-Lamento desapontar-te Ju, acho-te fantástica, uma delicia…sexo contigo nunca é monótono, mas mesmo assim eu preciso de mais…
-Eu já conheço essa cantiga, escusas de gastar o teu belo latim comigo…depois conta-me como correu com a Maria…quero saber tudo!
-Se não contar ficas a saber na mesma…
-Sabes que sim!
 Escrevo uma mensagem a perguntar se será muito tarde para a convidar para um café ou algo mais substancial, assino Romeu dos congelados! A resposta tarda mas chega, dando-me a informação de que a probabilidade de sexo num primeiro encontro é de um num milhão! Envio uma segunda mensagem pedindo que refaça os cálculos probabilísticos para segundo encontro, e que entre em conta com o facto de estar um passo à minha frente, e de saber mais sobre mim do que eu sobre ela!
Ela liga: -queres mesmo os cálculos ou preferes ir ter comigo onde eu te disser?

Chego um pouco mais cedo, combinamos tomar um copo, sento-me ao balcão enquanto espero acompanhado de um whisky e deixo-me perder entre a música agradável que se ouve e o ar antigo e sério do espaço. Ela chega, e passa os olhos pela sala. Levanto-me e vou ao seu encontro.
-Reconheci-te mais facilmente nos congelados do que aqui…Confessa com olhos brilhantes.
-Desfiz a barba!
-Deve ser isso… E caminha em direcção a uma mesa, dando-me possibilidade de a apreciar curva por curva, bem definidas num vestido curto, sem alças, ombros nus de pele clara, em contraste com o escuro azul do tecido. Bamboleia-se à minha frente, sabe perfeitamente para onde estou a olhar.

Saltita a gazela feliz, no meio do capim alto, longe de imaginar que esse mesmo capim esconde um leopardo que saliva o cheiro que ela liberta!

Escolhe uma mesa ao fundo, ladeada de poltronas distantes, com o propósito de me manter no limite. E cruza as pernas, deixando um delicioso joelho pendente…mas eu tenho tempo. Conversamos e bebemos probabilidades, congelados, sexo e muito mais. Lentamente solta-se, distrai-se daquele ar sério, molha os lábios com sardas passando neles a língua.

O leopardo aproxima-se de corpo colado ao chão, espera pacientemente pela presa.

-Já é tarde, amanhã é dia de trabalho. Acompanho-a ao carro e aproveito o momento certo em que não tem por onde fugir, encurralada entre o carro e o meu corpo, levo a mão ao seu pescoço, gestos firmes mas suaves, e beijo-a. Primeiro com um beijo tímido testo a reacção dela, depois um outro mais elaborado e à terceira entra a língua.

A gazela presente o perigo, ainda tenta correr pelo capim, mas o leopardo salta sobre ela, prendendo-a com as garras e uma dentada penetra fundo no pescoço.

-Para minha casa? Pergunta. Limito-me a entrar no carro e a deixar que me conduza, sem que os meus dedos se ausentem dela, do ombro nu e através do decote, do joelho até ao interior da coxa.
Não tinha planeado a minha presença no seu apartamento, no seu espaço intimo. Sinto-a nervosa sob os meus dedos, sussurro ao ouvido que lhe vou dar prazer e desaperto-lhe o vestido que lhe cai aos pés. Afasto-lhe o cabelo do pescoço e a minha língua passa maliciosa descendo vértebra por vértebra, até ao limite da única peça de lingerie. Pela frente os meus dedos conquistam o território, foram descendo e contornando e encontram-na quente e húmida quando a penetram.
Desaperto a camisa, quero que ela me sinta, quero que ela me toque e pego-lhe na mão trazendo-a em direcção ao meu peito, ela reage como se a minha pele queimasse, mas depois como se ficasse pressa a mim. E desaperta-me as calças, sinto que ganha confiança, as mãos procuram-me e depois a boca, primeiro na minha boca e depois o resto de mim.

Deixo os braços cobertos de sardas com um beijo no ombro. Ainda não se fez dia e mal me encontro na rua acendo um cigarro. Tenho de deixar este vício.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

L de lençol ou leopardo

Acordei-a com café acabado de fazer, torradas com geleia e sumo de laranja.
-Onde é que eu estou? O que me aconteceu?
-Estás em minha casa, não te lembras?
-Não me lembro de quê?
-De ontem, da praia, do jantar, do vinho, de me teres violado…
-Eu??? Diz com um ar assustado e repara que está nua por baixo do lençol
-Estou nua! Grita, e enrola-se no lençol saltando da cama quase a tropeçar nas pontas!
-Com roupa teria sido complicado…E levanto-me da cama, caminhando até ela.
-Tu estás nu…! E tenta tapar os olhos com uma das mãos enquanto a outra mantém o lençol apertado…
-Tem calma… Agarro-a pelos braços gentilmente, mas ela nem quer olhar!
-Tu és o Diabo só pode…veste qualquer coisa…
E aconchego-me mais a ela, quase encostado sussurrando.
- Vamos tomar o café, depois faço-te uma massagem…
-Mas veste alguma coisa…
-Uma tanguinha de leopardo?
-Pára com isso, já basta parecer que tens ai uma serpente…tapa-te!
- Até parece que nunca viste!
-É diferente…
-Por ser circuncidado? É igual…
Visto uns boxers e volto à cama, ela está afogueada, alterada, provocada…Mas acaba por voltar à cama, enrolada no lençol.
-Explica-me direitinho o que aconteceu ontem.
-De quê que te lembras?
-De estarmos na praia, tu estavas a dizer que eu era uma mulher bela, especial…
-E tu adormeceste…Não ia-mos ficar ali na praia a dormir, ainda te tentei acordar, mas dormias como uma pedra e acabei por te trazer para minha casa.
-E depois?
-E depois nada.
-Como assim nada? Estou nua, tu estás nu…
-Quando chegamos tu acordaste e começaste a tirar a roupa, estavas ainda sob o efeito do álcool, e tentei que fosses dormir, empurraste-me para a cama e quiseste violar-me e acabaste por adormecer!
-Ai que vergonha! Mas e porque que estavas nu?
-Estava esperançoso que me quisesses violar agora…
-Tu estás é maluco! Quero tomar banho e sair daqui para fora, preciso ir trabalhar! Levanta-se sem largar o lençol enrolado em volta dela, deixa uma ponta que se vai arrastando pelo chão como uma cauda…Procura as roupas que ontem atirou em todas as direcções enquanto fazia um striptease silencioso mas muito sensual.
-O meu carro? Pronto é hoje que vou ser despedida……o meu telemóvel? Preciso telefonar….afinal posso tomar banho ou não?
Calco-lhe a ponta do lençol com força, e ela acaba por ficar nua, fulmina-me com o olhar, e tapa-se com as roupas, enquanto procura a casa de banho, ainda lhe digo que aquela porta é a da entrada, mas barafusta tanto que nem me ouve.
- Bom dia menina! Romeu, tudo bem? O vizinho da frente acaba de sair de casa e fica encalacrado com a visão dela dobrada sobre a roupa tentando tapar-se, ao menos eu estou de boxers.
-Odeio-te com toda a força que tenho!
-Tentei avisar-te porque não me deste ouvidos?
-Porque será? Estou numa casa estranha que não faço a mínima onde fica, não sei do meu carro, acordo nua ao lado de um gajo nu e numa cama que não é a minha, como queres que eu te dê ouvidos? Confessa que te estás a divertir a brava!
-Su por favor ouve-me! Vamos por partes….o teu telemóvel está aqui, liga para quem tens que ligar e já tratamos do resto.
Ligou e depois teclou furiosa uma mensagem, recebeu resposta logo de seguida e ficou mais tranquila, sentou-se na cama e perguntou:
–O meu carro está onde?
-Lá em baixo na garagem.
-E o teu carro?
-Ficou na praia. Mais tranquila? Podemos tomar o pequeno-almoço antes do banho?
-Sim, podemos…
Durante o pequeno-almoço começou a ficar mais descontraída, e deu início a uma guerra de almofadas que acabou comigo em cima dela, completamente dominada.
-Preciso mesmo de um banho! Disse evasiva, tentando fugir de mim.
-Precisamos!
-Nem penses, preciso de um banho sozinha!
Cansado de argumentar deixei-me ficar caído na cama, pensava na noite anterior, na praia, na sessão de striptease que me tinha feito depois de me empurrar para a cama, visualizava tudo o que se tinha passado, eu sentado e ela à minha frente toda nua entregava-se a mim, e as minhas mãos passavam das costas macias até às nádegas firmes, dançava ao som da música que ouvia na sua cabeça, entre as minhas pernas, roçando-se e a minha boca sentia o seu ventre e ansiava por mais, deitava-se por cima de mim, subjugando-me e adormecia! Estava de novo cheio de tesão só de a imaginar no chuveiro, ali ao lado e não resisti.
- Que é que estás aqui a fazer? Gritou assim que me viu entrar na casa de banho.
- Xiu….os vizinhos já sabem que estás cá, não vais querer a policia aqui à porta também!
- Romeu, sai daqui por favor!
- Não Su! Não saio, eu desejo-te e quero-te!
-Já disse que não…podes ficar quanto muito aí a ver-me!
Provocadora, enchia as mãos de gel e passava pelo peito várias vezes, os bicos hirtos, deixava-me ainda mais doido, de mãos apoiadas no resguardo de vidro, estava a ser torturado do lado de fora da banheira! Depois apoiava uma perna na beira da banheira e passava os dedos pelas coxas até se tocar intimamente! Passa o corpo por água retirando a espuma e sai. Molhada, ainda me provoca mais, passa-me as mãos pelo peito e desce até me sentir bem duro sobre os boxers.
-Ai Romeu, que tentação! E puxando de cada lado tira-me os boxers e é visível pelo seu sorriso a sua satisfação…
-Sabes do que estás a precisar? De um banho de água fria…que eu tenho de ir trabalhar!
-Não faças isso Su, não me deixes assim…isto faz-me mal à saúde!
-Meu querido, não dá, tu és tentador mas eu não posso…como é que saio da garagem?
-Dá-me 10 minutos e saio contigo…
E dez minutos depois estou de banho tomado, pronto para ir trabalhar. Enquanto descemos até à garagem suspira …
-Nem parece tu assim …Engole em seco!
-Assim como?
-Assim de fato e gravata, tão elegante…estou a ficar com uns calores!
-Vá-se lá entender vocês mulheres…um gajo nu todo teso, tu foges…e agora estou aqui todo apertado num fato e tu achas piada!!!!
-Queres voltar lá para cima?
-Tenho de ir trabalhar…
-Olha, ficou amuadinho…e vais como?
-De mota…

quinta-feira, 2 de junho de 2011

C de congelado

O que comi ontem não me caiu muito bem.

Farto de comer fora, fui fazer uma visita ao supermercado antes que este fechasse e resolvi procurar na secção de congelados por algo que sendo comestível, não me desse muito trabalho e fosse rápido…esqueço-me sempre é que sendo comestível, fácil e rápido, dificilmente consegue fazer com que fique satisfeito! Estava de cabeça enfiada nas arcas congeladoras, quando ouvi o meu nome. Não havendo muitos Romeus, voltei-me e dei de caras com uma beleza desconhecida! Fiquei estupidamente petrificado e só consegui dizer um olá. Aquela mulher de rosto peculiar, com sardas até aos lábios, emoldurada num cabelo castanho numa trança, não me era minimamente familiar, e não lhe associava um único nome, no entanto ela sabia o meu.

Podem não acreditar, mas ainda me lembro de todos os nomes dos meus colegas da primeira classe, a maioria dos nomes dos colegas do preparatório e secundário, até sei o nome do professor de inglês do 7º ano, dos colegas da faculdade não me lembro de todos mas uma grande parte…eu sei o nome de todas as pessoas com quem trabalho, inclusive dos três seguranças que fazem turnos rotativos e das senhoras da manutenção que pertencem a outra empresa, até o nome da menina da caixa do supermercado eu sei…como é possível não me lembrar do nome desta cara laroca que está aqui à minha frente na secção dos congelados?

E eu estou com aquele olhar de testa franzida, como se as engrenagens do cérebro de facto estivessem a tentar funcionar, mas pior é quando ela diz:
-não te estava a reconhecer com roupa!
Nesse momento senti-me mesmo estúpido, como era possível ela já meter visto sem roupa e eu não me lembrar da cara dela? Estaria assim tão bêbado? E ela apercebe-se do meu vazio e lá acaba por dizer a rir:
-Não te lembras de mim pois não? Sou a Maria…

Sabem aquela sensação de clique quando ouvimos o nome e tudo finalmente faz sentido? Não senti… continuava sem conseguir ligar aquele rosto ao nome…
-Não te torturo mais, sou amiga da Ju… não sei se te lembras daquele dia em que lhe mandaste uma foto muito interessante…falamos e até perguntei se eras o famoso Romeu.
-Agora sim já estou a ver…desculpa mas estava longe de imaginar…
-Achei que eras tu e aproveitei para me meter contigo!

Senti-me nu! Muito mais nu do que se estivesse sem qualquer peça de roupa junto aos congelados, arrepiado pelo frio libertado pela abertura das portas!
-Bem, vou-te deixar a meditar com os congelados, tenho de ir tratar do jantar. Prazer em ver-te Romeu, fica bem…

Linguine Gamberetti, com camarão, amêijoas, coentros e alho, em 5 minutos…não me caiu muito bem!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

B de bacalao ou barcelona, tanto faz...

Depois de várias horas em reuniões, imersos em papéis, piadas porcas, e um ar constantemente artificial cuspido pelos ventiladores, resolvemos jantar no Colibrí. Admito que não sou grande fã de comida de autor, ou pseudo criativa…so full of shit! Mas o nosso anfitrião catalão convence-me com o Morro de Bacalao!
Ferran conduz-nos pela Barcelona raiada de vermelho que o pôr-do-sol pintou. O restaurante fica numa rua calma, quase que não se dá por ele, a sala não é muito grande, poucas mesas estrategicamente afastadas, o ambiente é muito selectivo mas agradável.
Somos quatro, Ferran el catalán, Petr o “tcheco” e Jurgen o austríaco! A língua comummente usada é o inglês, mesmo não sendo a língua materna de nenhum de nós. Por vezes Petr e o Jurgen trocam duas de esloveno entre eles, principalmente quando fazem comentários obscenos sobre a muito interessante assistente de Ferran! Incrível como mesmo embrulhado num Ermenegildo Zegna que custou mais do que três mil euros, Petr o Tcheco não deixa de ser um porco e baba-se escandalosamente diante de um bom par de pernas!
Por educação, eu e Ferran raramente falamos espanhol entre nós, e catalã nem pensar que o meu é limitado a meia dúzia de expressões! Corre o boato que Ferran dorme com a assistente.
Saímos do Colibrí bem comidos e bebidos, Ferran sugere uma ida a um clube, não é muito longe dali, entrega-me as chaves do seu muito estimado Mercedes coupé de quatro portas, dizendo que pareço mais sóbrio e que o GPS me leva lá! Entramos por uma porta nos fundos, onde somos recebidos por uma loira de cabelo curto toda ela pernas, num vestido de lantejoulas. A parte de baixo do clube funciona como discoteca, a música electrónica começa a dissipar assim que subimos as escadas para o primeiro andar. Um imenso balcão iluminado numa sala escura, convida a tomar um copo, atrás dele uma morena pouco maquilhada de olhos grandes sorri para nós!
Uma segunda rapariga surge, loira muito maquilhada e entre elas falam um dialecto qualquer que nem mesmo Petr, um perito em línguas, chega a entender o que dizem…”vocês são de onde?” pergunta com toda a lata que lhe é característica! A mais morena é italiana, a loira responde prontamente que é de Marte sem nunca se virar para nós!
Petr olha para mim e pergunta: “o que foi que ela disse?” Marte, respondo. O gajo é um linguista mas começo a achar que não faz ideia de onde fica Marte! Ela acaba por confessar que é de Malta perante a simpatia e charme de Ferran. E Jurgen aproveita para dizer que esteve em Malta uma vez, numas férias com os pais, em 1984…ela ri, e depois diz que nem sequer era nascida em 1984! Apesar de não parecer, tinha pouco mais de vinte anos. Depois foi a vez delas quererem saber de onde éramos, Ferran estava a gostar, divertia-se com a situação, até que soou a palavra português quando se dirigiram a mim, e a italiana não se conteve em dizer que os portugueses eram sem dúvida os homens mais belos! Jurgen atirou logo que eu nem era nada de especial e que até nem parecia português…só quando deixava crescer o bigode! E a rapariga de Marte piscando o olho disse que não conhecia todos os portugueses, mas os que conhecia eram bonitos…e que o sonho dela era casar com o Cristiano! Riram as duas, a italiana num inglês engraçado esclareceu que ela podia ficar com o Cristiano desde que ela ficasse com o Mourinho!
Estava divertida e infantil a conversa quando me levantei e procurei a casa de banho. Ao voltar ao primeiro andar cruzei-me num corredor escuro com una chica guapa que não me era estranha de todo. “Olá Romeu!” Era a assistente de Ferran.
-Olá, o que fazes por aqui?
-provavelmente o mesmo que tu, sabes também tenho uma vida para além do escritório…
-pergunta parva, desculpa, é que não te estava a reconhecer e fiquei surpreendido!
-reparei, tu estás igual por isso para mim foi fácil. Estás sozinho?
-Ferran e os outros estão lá em cima…
-faz-me um favor, não lhe digas que me viste, ok?
-tudo bem, sem problema.
-não é por nada, mas a minha relação com Ferran é apenas profissional e já me basta todos os boatos e comentários ordinários que tenho de ouvir, se nos vêem aqui juntos, de certeza que vai haver conversa para vários meses!
-desculpa a pergunta, mas tu e ele é só boato então?
-claro que sim, ele é amoroso e sem dúvida muito atraente, mas trabalhamos juntos, às vezes fins-de-semana incluídos, e para mim trabalho e prazer não se misturam!
-fico com alguma pena, estava a pensar convidar-te para ir tomar um copo e agora…
Ela sorri e responde o impensável.
-não penses, limita-te a convidar.
-vou buscar o meu casaco então!
Arranjo uma desculpa qualquer, mas também não importa se é pouco convincente, eles estão demasiado distraídos para os lados de Malta! Ela já está na rua à minha espera, oferece-me do maço aberto um cigarro como o que ela fuma, aceito e caminhamos duas ruas até entrarmos num bar calmo, de poltronas confortáveis.
É uma mulher bonita, inteligente e sabe como atrair sobre si as atenções, sem precisar de muitos brilhos ou roupas vistosas. A conversa apimenta-se quando ela diz que gostou do modo como a olhei ainda hoje de manhã, finjo não saber de que olhar ela fala.
-não olhas de um modo nojento, como o checo o faz…tu avalias e despes mas de uma forma agradável, carinhosa…quando o fizeste hoje de manhã, desejei sentir os teus dedos na minha pele e depois, nem sei bem porquê mas não consegui deixar de olhar para as tuas calças e pensar como seria ter-te na minha boca!
Sou apanhado de surpresa, um predador que acaba por se ver na boca da presa! Então proponho irmos até ao meu quarto no hotel e ela sugere irmos antes para casa dela, dizendo que não quer que ninguém saiba que acabamos a noite juntos!
Entramos num táxi, as ruas iluminadas e agitadas passam ao lado, a minha boca procura a pele despida sobre o ombro levemente bronzeado, o pescoço delicado e depois acha a boca dela, doce, quente, ansiosa…

Roubei um cigarro do maço de Fortuna deixado na mesa e passei para o pátio. Protegendo a chama fraca com a palma da mão acendi-o e deixei-me ficar ao frio. Seriam umas cinco da manhã, o sol continuava retido do outro lado do mar e uma chuva que não sendo chuva mas talvez humidade, tocava na pele nua e sobre Barcelona às escuras como uma bênção, limpando ambos dos pecados da noite.

Vento de leste, nada de bom se avizinha.

Voltei à cama onde o corpo quente dela repousava, num sonho tão distante que nem deu pela minha presença, aproximei-me dos cabelos claros e mergulhei o rosto fechando os olhos, e por momentos senti o cheiro de férias passadas à beira mar, de um piquenique na mata e resina de um pinheiro, o cheiro de longe, de dias felizes. Dormi mais uma hora.

Voltamos a ver-nos no escritório, demora-se quando passa por mim, trás um decote ainda mais desafiante e dispo-a com o olhar como ainda ontem fiz, mas desta vez já conheço o que esconde aquela blusa, aquela saia justa que não chega aos joelhos. Não se inibe de esboçar um sorriso e finta-me com o olhar. Quando Ferran sai, Petr volta à conversa e aos comentários. Desta vez não me contenho e digo-lhe que é falta de educação falar uma língua que as outras pessoas que estão na sala não entendem, sendo ele tão bom no espanhol quanto no inglês… ele pede desculpa com ironia, dizendo que apenas comentava com o amigo o clima inconstante da Catalunha! Estou capaz de o desfazer, mas contenho-me dobrando parcialmente a esferográfica na mão, quase ao ponto de a partir! Ela sai da sala sem saber bem o que fazer, o clima é tenso e ficamos os três sozinhos.

Jurgen estica-se sobre a mesa e sussurra na minha direcção depois de ter olhado para a porta:
-então, que tal? é boa na cama? O Ferran sabe que a comeste?
-como?
-julgas que não vi como te olhou mal entraste? E aquela boa disposição dela…ainda ontem estava de má cara…
-não sei onde foste desencantar essa teoria fantástica!
Petr está de boca escancarada como se isso ajudasse o seu pobre cérebro a funcionar! E Jurgen continua, depois de olhar para a porta certificando-se que Ferran ou a assistente não aparecem.
- Bem que achei estranho o teu desaparecimento ontem, tinha de haver algo mais comestível…Teve o tratamento de boa disposição à portuguesa?
E ri o desgraçado. Só não lhe parto o focinho porque as consequências seriam demasiado drásticas. Petr ainda não fechou a boca e não o faz sem antes dizer:
-Fodeste a assistente de Ferran???
E Ferran acaba de entrar na sala, mesmo a tempo de ouvir a ultima frase tão bem pronunciada!
-importas-te de chegar aqui, Romeu?

Entramos noutro gabinete ao lado e fecha a porta. Esfrega o queixo bem barbeado antes de falar, procurando nas paredes atestadas de quadros sem qualquer significado, as palavras certas.
-nem sequer me vou dar ao trabalho de confirmar se o que acabo de ouvir é verdade ou não.
-escuta Ferran…
-não digas nada Romeu, peço-te que não digas nada e me deixes acabar…E pela tua expressão já vi que me confirmas o que ouvi! Homem, somos amigos há tantos anos, confio-te o meu carro, confiava-te a minha casa, a empresa, a minha vida…e tu fazes isto? Estás doido? Tu já viste no que me foste meter? Quer dizer, deixas-me entre a espada e a parede, ou mando-a embora ou a nossa sociedade acaba…com que cara vou encara-la? E os outros?
-Ferran, desculpa lá mas estás a ser um pouco naife…Podes confiar-me o teu carro, a tua casa, qualquer bem material, até um contrato, uma sociedade, um aperto de mão vale a minha palavra, mas uma mulher? Até a tua irmã eu comia, a tua mãe se me apetecesse, a tua esposa se tivesses uma…

E saio porta fora, deixando Ferran num tom branco inexpressivo. Ao atravessar o corredor ela está junto à porta do gabinete, de olhos preocupados esperando ver nos meus uma expressão, e sem contar encosto-a à parede e beijo-a, abraçando-a por inteiro, como se a quisesse esconder do mundo e absorve-la num beijo! Todo o meu corpo sente o dela e faz com que ela sinta o meu por inteiro…”até qualquer dia Julieta!”