quinta-feira, 4 de agosto de 2011

mojitos e ovos cozidos ou sway III

O fumo do cigarro sobe no ar fresco, estou à espera dela. Há quase trinta minutos que deixou a casa de banho e entrou no quarto, e ainda não está pronta. Há uma senhora sentada no prédio em frente, parece abandonada nela mesma, sem reacção, aceno-lhe e ela responde voltando ao mesmo estado de inércia. Já parou a chuva que nos surpreendeu na montanha, estava a dormir tão bem com a cabeça caída sobre o ventre dela, fazia-me caricias entrelaçando os dedos pelo cabelo, quando a trovoada anunciou o dilúvio e foi correr até ao teleférico. Mas foi bom, as roupas encharcadas coladas aos corpos arrepiados, deram azo a um momento tórrido enquanto esperávamos pelo comboio.
A minha bagagem tinha sido entregue no hotel, no dia seguinte voltava para casa. Mas entre o dia seguinte e aquele momento, tínhamos uma noite quente pela frente e depois de tomar um banho e trocar de roupa, estava ali à espera dela, de fato e camisa lavada.
Bateu ao vidro da varanda, o meu queixo quase caiu e com ele o cigarro quase me queimou. Estava fantástica, glamorosa e deliciosa num vestido preto que cruzava à frente. Apeteceu-me devora-la e só não o fiz porque ela travou a porta e fez-me prometer que só depois de lá chegarmos é que me deixava senti-la toda com a língua.

Apesar da fila que se formava à porta do Opera Louge Bar, escusado será dizer que mal chegamos os seguranças fizeram sinal para entrarmos. Aparentemente é igual em todo o lado, ter bom aspecto e ar de quem vai consumir e por isso, desembolsar, é prioritário!
O espaço é imenso e a transbordar sensualidade. Cabines de duche onde raparigas em roupa interior se rebolam umas nas outras provocando os rapazes, dançarinas em gigantescas taças com água, bem acima das nossas cabeças e salinhas privadas com sofás e cortinados pesados mas que deixam transparecer vultos que me vão dando ideias…
Ela caminha ligeiramente adiantada, a minha mão sempre presente ao fundo das costas dela. Entrar com uma mulher assim tão bela, faz com que muitos rostos se voltem na nossa direcção, tanto mulheres como homens, todos a desejam, todos a querem devorar.
Os amigos dela já cá estão, acenam-lhe lá de cima, uma zona mais recatada com mesas e sofás. São simpáticos e divertidos, ela apresenta-me, inclino-me para beijar as raparigas na face, algumas riem outras já de mão estendida, levantam-se e beijam-me a mim. Danço com quase todas elas, ela dança com quase todos eles, mas os nossos olhares cruzam-se vezes sem conta.
–o que te apetece beber? Pergunto ao ouvido, enquanto a minha mão desliza pelas suas costas acima, até à suave concavidade do pescoço.
-Mojitos!
-Mojitos?
-sim, muitos mojitos!
-as suas ordens são um desejo…
Antes de me afastar dela para saciar a sua vontade, agarra-me por um braço e puxa-me, até o meu ouvido estar junto dos seus lábios para me dizer:
-depois quero-te a ti!
E a língua traça a saliva o rebordo da orelha. Estremeço, sinto a pele arrepiar. Preciso mesmo de algo fresco!
Ficamos sentados um bom pedaço, o álcool e o cansaço adormece-nos um pouco, até as línguas começarem de novo a desejar mais, até me apetecer senti-la por fora e por dentro, as minhas mãos já não ficam onde as ordeno, os dedos rasam o decote dela como aves de rapina! E levanta-se, estendendo a mão na minha direcção.
-Vamos? Já não aguento mais…
Entramos no primeiro compartimento despido de vultos. Uma cortina separa-nos do mundo, o desejo separa-nos de tudo. E dispo-me lentamente para ela, sentada e lânguida no sofá. Morde o lábio e prende as unhas no couro. Unhas que me vão marcar as costas, assim que pegar nela ao colo e a possuir contra a parede! E o vestido que cruzava à frente, descruzou-o para mim, também lentamente, e a minha língua cobriu cada centímetro de pele nua do seu corpo que pedia, implorava pelo meu.
A música estridente, sentia-se na batida forte, mesmo assim ofuscada pelo som da respiração e do sangue a correr nas veias. Estava completamente passado com o perfume que ela emanava, excitado, cada músculo tenso para a possuir. Peguei-a pela cintura e penetrei-a, rodeou-me com pernas e braços e levantei-a do sofá encostando-a à parede onde só abrandei o ritmo quando ela se veio. Apesar de ser leve como uma pena, o meu tendão de Aquiles começava a lamentar-se e tive de me sentar. Voltada para mim, sentou-se no meu colo, as línguas escondem-se e encontram-se, ela é insaciável e deixa-me cheio de tesão. Levantei-a e virei-a para ficar de quatro, rabinho levantado para mim, uma visão deslumbrante…e voltei a penetra-la, devagar, muito devagar e bem fundo.
O calor que se fazia sentir era diabólico, a vontade era entrar numa daquelas cabines de duche e acabar lá o que tínhamos começado diante de toda a gente.
Saímos directos para a rua, chamei um táxi e voltamos a casa dela. A vontade não esmoreceu na viagem, as minhas mãos dentro das coxas dela, dentro dela, tocavam-na, mantinham-na em ponto rebuçado, liquida e doce! Voltamos a despir as roupas mais uma vez e entramos na água pela última vez, ela montada em mim, unhas cravadas nos ombros, intenso, longo, até assombroso.
-Tens fome? Vou por uns ovos a cozer…

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

café simples sem açucar ou sway II

Na penumbra do quarto, voltei à cama gatinhando entre as duas, puxei o lençol e junto veio um braço que me abraça e um corpo que se encosta nas minhas costas. De frente para mim, volta-se um rosto que sonha a menos de um palmo do meu. Não as distingo pelo tom ou comprimento do cabelo, muito menos pela íris oculta na pálpebra, mas pelo cheiro distinto, característico que exalam como flores e embriagado pelo perfume volto a cair no sono.

O aroma a café resgata-me do mundo de sentidos adormecidos, e penso na Madame d’Orvilliers que não resistindo aos encantos do jovem tenente Francisco de Melo Palheta, lhe envia um ramo de flores onde dissimuladas, se encontravam escondidas as sementes das quais haveria de crescer o poderoso império brasileiro do café.

Os dedos dela passeiam pelo contorno da minha tatuagem. Sem abrir os olhos e mesmo dissimulado pelo odor do grão torrado, eu sei que aquelas mãos pertencem à dona de uns olhos verdes como limas. E então ela diz:
-Bom dia Romeu remelento!
Para além do café acabado de fazer, há pão quente com manteiga e geleia de groselhas e manga cortada em fatias. Ela senta-se na cama cruzando as pernas e fica a ver-me comer. Tem um brilho diferente nos olhos, talvez da luz que entra plena pela janela, ou então um brilho que já existia e que me passou despercebido.
- Tinha pensado passar o dia de hoje na montanha, caminhar um pouco, levar uma merenda…queres fazer-me companhia?
-depois de um pequeno-almoço destes seria muito deselegante da minha parte recusar. Mas montanha mesmo montanha? Daquelas com terra?
Ela ri perante o absurdo da pergunta.
-sim montanha mesmo, daquelas grandes, com terra, rochas, árvores…!
-o único problema reside no calçado apropriado…
-resolvemos isso no caminho.
-E a tua amiga?
-teve de ir trabalhar, infelizmente para ela, felizmente para…
-e sexo antes de irmos?
-parece-me bem!

Estico-me até alcançar o tornozelo descalço e puxo-a por uma perna para mim, ela deixa-se escorregar e fico sustado sobre ela, tocando-a apenas com os lábios na sua boca, sentindo o sabor prolongado do café, descendo pela linha do rosto, subindo de novo junto ao lóbulo da orelha. E toma a iniciativa dobrando-se pelo ventre, lançando o seu corpo ao encontro do meu ainda nu.
Blusa e calças seguem direcções opostas e encapela-se em mim como a onda faz ao mar, ficando por cima, quase nua. As bocas voltam ao ponto de partida, ao sabor amargo e quente e sinto-me entrar nela, húmida, unida e intensa. Solta-me a boca para soltar um gemido seguido de outro e mais outro e depois outros tantos.

Um banho gelado resfria-me a cabeça, tonifica-me os músculos, levando a água o cheiro delas impregnado em cada poro da pele. Ela está pronta para sair de casa. Uetliberg é o nosso destino.
Bem no coração de Zurique, fica Hauptbahnhof, a estação, um prédio fantástico de 1871 que mistura o clássico com o ultra-moderno. Segura-me a mão e puxa-me para dentro de uma loja, é muito prática e vai direita a calças de ganga, um pólo e sapatilhas, limito-me a tentar lembrar-me dos números. E depois entramos nuns provadores pouco amplos, ela senta-se, livro-me das calças, e ela acaricia-me. Tiro-o para fora e deixo que ela passe a língua de baixo até à ponta, para depois o mergulhar no calor da boca, o pressionar com os lábios, enquanto os seus olhos verdes procuram as expressões de prazer no meu rosto. venho-me.

Troco de roupa e antes de tomarmos o comboio para o sul, deixo ficar as minhas coisas num cacifo da estação. Viajamos sentados frente a frente, conversamos toda a viagem, desde as coisas mais absurdas como comer ananás antes de fazer sexo oral, até aos candeeiros em forma de veados…Caminhamos um bom pedaço, até uma paragem forçada pela fome. Sentamos numa zona com sombra a saborear tanto a paisagem como as iguarias que ela tinha preparado! Vê-se a cidade e o lago, e lá mais ao longe os Alpes.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

sway

Já era de estranhar que depois de duas horas à frente do tapete rolante, a minha mala continuasse sem aparecer. Depois de confirmar que estava no tapete certo, reclamei junto da companhia aérea. Parece que aquele voo para Zurique, era uma escala para Bangkok…por isso a minha bagagem estava em viagem para a Ásia!
A menina simpática do guiché prontificou-se a dar-me indicações de como chegar ao hotel, aproveitei para saber onde podia comprar produtos de higiene, tais como lâmina de barbear, e roupa de homem, já que apenas tinha comigo o meu portátil, e no dia seguinte esperava-me uma reunião e embora tivesse a feliz ideia de viajar de fato, precisava de pelo menos uma camisa e roupa interior lavada!
Os planos iniciais eram de passar o mínimo de dias em Zurique, apenas o tempo necessário para reunir, trocar impressões e dois dias depois estaria de volta ao Porto! Mas ao fim destes dois dias a minha bagagem ainda não tinha regressado e a funcionária da companhia aérea desfazia-se em desculpas, pedindo que permanecesse mais 24h em Zurique, e que para além de me alterarem o voo, ainda me pagavam a estadia e demais despesas.

Depois de um dia complicado em reuniões que mais pareciam aulas de spinning, lá voltei mais morto que vivo ao hotel. Jantei cedo, deitei-me na cama a olhar para a tv e dei comigo a pensar que haveria milhentas coisas mais interessantes para fazer e que afinal, tinha o dia seguinte para dormir.
Entrei num bar simpático, o Splendid, com ambiente descontraído. Sentei-me ao balcão onde não estava ninguém e pedi um whisky. Nas mesas espalhadas, alguns casais e um grupo heterogéneo divertido mais ao fundo. Havia música mas o espaço para dançar não era muito, no entanto isso não era impedimento para que alguns elementos do grupo bailassem entre as mesas! Era o caso delas as duas.
Quando uma música lhes agradava, levantavam-se em simultâneo e dançavam agarradas, ou mais afastadas, mas sempre de um modo muito sensual que cativava os olhares da sala. Eram ambas donas de uma beleza singular, difícil até de descrever ou de nomear qual das duas seria a mais bela. Uma delas tinha cabelo castanho claro, cortado em volta do rosto, e um olhar verde que me mantinha cativo. A outra, de cabelo mais escuro, quase preto, olhos de um azul de mar revolto. Os rostos corados pelo esforço e não só, lábios ao rubro que quase se tocavam.

E os primeiros acordes fizeram anunciar o ritmo alucinante de Sway ! As duas voaram por entre as mesas e sem largarem as mãos começaram a dançar, a poucos metros de onde eu estava. Senti os olhos postos em mim e voltei-me para elas, enquanto fazia pequenos círculos com o dedo na borda do copo. Dançavam agora mais juntas e sem desviar o olhar, provocando com caricias. Bebi o que restava para me dar coragem e agarrei o primeiro braço que se baloiçava à minha frente, os olhos verdes quase que me fulminavam enquanto a fazia rodopiar por baixo do meu braço até a fazer vir ao encontro do meu corpo, e uma outra mão tomava a minha, e um olhar azul enrolava-se, dançando voltada de costas, enquanto a sentia bambolear-se contra mim. Desprendeu-se de mim e voltei a ter frente a frente os olhos cativantes, imensos, e para trás e para a frente a guiava sentindo-a sensual na ponta dos meus dedos.
Quando a música acabou, sentaram-se noutra mesa, afastadas do grupo e atravessei a sala com o casaco no braço e três bebidas nas mãos. Sentei-me junto à de olhos verdes e cabelo mais claro. Perguntaram-me de onde era, e lá contei as minhas peripécias, a minha mala que viajou até Bangkok e a permanência mais prolongada por Zurique. E assim a conversa nasceu, sugestões sobre o que devia visitar, depois falamos sobre as cidades e experiencias interessantes, saltamos facilmente para os costumes, dialectos, gastronomia, e não se sabe bem como, música, livros, arte, cinema…os copos acumularam-se na mesa, não demos pelas horas passarem. Na dança do levanta e vai buscar bebida, acabo por me ver sentado entre as duas. E a de cabelo mais escuro pergunta se pode provar do meu whisky e empurro o copo para a sua frente. –quero provar dos teus lábios. Bebo um gole e as nossas bocas tocam-se, ela lambe o lábio e diz que não é suficiente para sentir o sabor, e volto a beber mais um trago e faço a língua, amarga, seca e alcoólica do malte envelhecido, deslizar dentro da sua boca. – É boa a tua língua, saborosa apesar de amarga! E a outra pede então para provar, mas não da minha boca, mas da boca da amiga, e beijam-se à minha frente, enquanto sinto o deslizar das duas sobre os meus braços, mãos que me tocam nas pernas e que sobem até me sentirem. As luzes começaram a ser desligadas, eram horas de fechar.

Ficamos mais um pouco à porta do Splendid, mas começava a ficar frio e despedimo-nos, o meu hotel ficava na direcção contrária, no entanto o meu desejo era seguir precisamente no caminho que elas tomavam, mas não queria ser indelicado e oferecer a minha companhia, sem saber ao certo se elas a queriam! Então a de cabelo mais claro e olhos de lima leu os meus pensamentos e sugeriu irmos para casa dela, onde podíamos continuar a conversa e tomar um chá quente. Aceitei, não pelo chá, que frio era coisa que eu não sentia!

Quentes pelo chá e pelo ambiente, rapidamente a conversa tomou o rumo que me agradava, e as duas, abraçadas, tirando as t-shirts, perguntavam se alguma vez tinha estado com duas mulheres ao mesmo tempo. E beijavam-se, tocavam-se, as roupas iam sendo libertadas até estarem diante mim completamente nuas, excitadas, gemendo! A língua da de olhos azuis tomava agora conta do corpo da amante, fazendo-a gemer cada vez mais alto, até toda ela se contorcer de prazer. E tomando consciência que eu afinal ainda estava ali, riram e perguntaram se queria participar, abrindo espaço entre elas para me receberem. Deixei que me tirassem a roupa, sentia quatro mãos percorrerem-me o corpo, duas línguas à solta em mim, era absolutamente fantástico, de uma sensualidade inebriante. Senti primeiro o sabor de uma e depois da outra, e entre elas continuavam os afagos, as caricias.
Acordei aos primeiros raios de sol enrolado nos seus corpos nus, perfumados a chá e jasmim, levantei-me trôpego e procurei nos bolsos do casaco o maço de cigarros, vazio.