terça-feira, 19 de julho de 2011

poltrona

Desde que mudei da sala para o quarto, que é raro ele sentar-se em mim. Fui substituída por um conjunto de três sofás novos em pele gasta, Chesterfields segundo os ouvi dizer, numa pronúncia afectada. Um estofo mal encarado e duas poltronas gémeas mais magricelas, diria até anoréxicas, ocupam agora o local de destaque. Acho que até tive sorte, o gigante pachorrento de quatro lugares com quem partilhava o espaço e divertidos momentos, foi levado por homens pouco simpáticos e que cheiravam a sovaco. O meu dono ficou a coçar a barba ao ver-me elevada e a ser transportada porta fora, e decidiu que não estava preparado para se despedir de mim e que cabia num canto no quarto, onde agora posso ficar a admira-lo enquanto adormece!
Mas confesso que tenho saudades das noites que passávamos juntos, em que ele procurava inspiração na largura dos meus braços, enquanto apreciava uma cigarrilha intercalada por um gole de whisky. Por vezes ainda se senta em mim para ler um livro, ou com o portátil pelas pernas, coloca uma manta clara quando anda quase nu, não me concedendo o prazer de sentir a pele dele directamente na minha, aquele calor que emana, tão vivo, impetuoso. Mas pelos vistos isso deve incomodá-lo!

É um bom dono, ofereceu-me um candeeiro de pé por companhia com quem jogo a adivinhar formas nas nuvens que se desenham na janela, e sombras que pairam no quarto, e não tem gatos de garras afiadas, ouvi dizer que são terríveis, deixam-nos furados até às entranhas.
No entanto, se eu possuísse uma cauda como o cão da vizinha do quarto andar, não era a ele que eu mostraria a minha felicidade por o ver, agitando-a num louco frenesim, mas sim a uma das suas amigas. Uma loira de fartos caracóis e perfume caro que me adora, e sempre que vem cá a casa, nem passa pela sala como acontece com a maioria das visitas, atrevo-me a dizer que nunca se sentou nos sofás antiquados de pele gasta. Assim que a sua voz rouca entoa no hall, já estou em sobressalto, as minhas molas estremecem de ansiedade!
Usa vestidos curtos, muito justos a um corpo sensual, libidinoso, e ele segue-a para o quarto, e eu espero pelo momento, em que o meu couro castanho estica, a madeira aglomerada palpita, as costuras quase rebentam de emoção, ele abandona-se em mim, sem se preocupar com mantas ou colchas, e ela coloca-se de gatas aos pés dele, não sei o que lhe faz, o rosto dela desaparece pelo seu ventre, mas deve ser bom porque ele fecha os olhos e inclina a cabeça para trás, e sinto a sua nuca em mim, no meu encosto, o seu cheiro a homem, as mão grandes tensas sobre os meus braços… como é bom!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Costa Brava V e último

Ficamos no silêncio, ocupados em pensamentos enquanto admirávamos a forma levitante do fumo daqueles dois últimos cigarros do maço. O mesmo maço onde ainda se podiam ler desbotados alguns números e um nome, Isabel! E no fumo ondulante vislumbrei as curvas do seu corpo, bem torneado, a pele brilhante e perfumada, sentada na minha perna, aberta para mim, masturbando-se para deleite dos meus sentidos. Depois de me massajar as costas desceu para as minhas pernas e pediu para me virar, verteu o óleo sobre o meu peito e em vez de o espalhar com as mãos como tinha feito nas costas, deslizou o corpo dela em mim, até os lábios ficarem juntos dos meus, mas sem nunca se tocarem. E montou-me, qual amazona de seios imensos reluzentes do óleo, até se esgotar de prazer.

Parecia que não havia mais nada para dizer, e assim que amortalhou o cigarro no cinzeiro, levantou-se puxando a carteira pelo ombro. Segui-a, barrei-lhe a passagem para o átrio colocando o meu braço na porta. Beijei-a nos lábios entreabertos que se preparavam para pronunciar a despedida, num belíssimo e exótico catalã que me encanta!

Umas horas antes em casa de Ferran, uns outros lábios com pronúncia bem diferente encheram-se de mim. Os ataques sucessivos de Táňa por baixo da mesa, deixavam-me sem apetite para apreciar a Paelha, sussurrei-lhe ao ouvido que me seguisse até à casa de banho, o meu apetite feroz por ela havia de ser saciado. E foi. Sentada na pedra fria de mármore italiana, com o vestido subido, bem aberta para me receber, duro dos amassos que me tinha dado. Tentava apertar as coxas, sentia-me esmagado, mas isso só me deixava mais doido e aumentava o ritmo das investidas. “és mesmo um menino mau!” Dizia-me ao ouvido, cada vez que entrava nela com mais força, intercalado com outras frases que não constavam do meu vocabulário!

-Pára Romeu! Deixa-me passar… preciso de me afastar de ti.
-Precisas porque ainda sentes alguma coisa… É isso?
-Preciso porque não passou de uma noite, acabou. Não há mais nada, não sinto nada por ti, és um convencido, deves achar que és o maior, o homem a que nenhuma mulher resiste. Deixa-me ir!

As poucas pessoas que por ali pousam descontraídas numa noite quente, desviam a atenção para nós, o tom de voz dela elevou-se acima da musiquinha de fundo que se faz ouvir irritante e permanente. Os olhos claros enchem-se de raiva.
-Esperanza, por favor, podemos ir falar para um sítio mais reservado? Não gosto de dar espectáculos gratuitos…
-Não vamos para o quarto, nem penses!

O quarto… aquele que no dia anterior tinha recebido uma visita inesperada, o receoso bater na porta afinal nada tinha de tímido, com o pretexto de usar o meu portátil deixei-a entrar, mal abri a água do duche e a recebi ainda morna, senti as mãos dela percorrerem-me o corpo sem qualquer pudor. Mesmo no meu estado debilitado, ergui-a contra a parede e penetrei-a, sem paixão. Trinta minutos depois estava pronto.

Esperanza “tiene su raíz en la palabra latina spero, esperar", e tinha sido isso mesmo que ela tinha feito, esperar pacientemente por aquele momento. A última vez que nos vimos foi no escritório de Ferran após a minha discussão com este, despedi-me dela contra a minha vontade, abracei-a em mim na tola esperança de a poder levar comigo.
Subimos ao quarto, insisti no beijo, mostrei-lhe como estava desejoso dela segurando a sua mão contra o meu sexo. E depois toquei-a por cima da roupa, massajando-a ao de leve pelo meio das pernas fechadas, pelo peito que transparecia excitação. Contra a porta de entrada desceu-me e abocanhou-me, do jeito que só ela sabe.

O mesmo sonho de dunas de areia que se acumulavam no infinito voltou a assombrar a noite, ficava preso na areia, sem conseguir sair, ia sendo engolido. Uma chuva fraca batia nas janelas, deviam ser umas três da manhã quando acordei, enrolado nela e no lençol. Levantei-me trôpego necessitado de água e um cigarro. O maço vazio parecia perguntar: que foste tu fazer Romeu?

Conclusão, a Esperança é sempre a última a “morrer”!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Costa Brava IV

O jantar aguentou pouco no estômago. Uma pena, aquelas costelinhas de borrego bem caramelizadas, temperadas a meu gosto, estavam divinais! Náuseas, tonturas e tremores, mas só sinto calor, um calor infernal. Volto a deitar-me depois de um banho de água fria, as dores de cabeça não desaparecem, mas aquela sensação febril dissolve-se aos poucos.

Não tenho ilusões de fechar os olhos e dormir. Penso naquela que me trás cativo no seu abraço, nos lábios cobertos de sardas que nunca me canso de beijar. Nem três dias passaram desde a última vez que estive com ela, e as saudades já me fazem delirar, ou então é da febre. Talvez seja a distância e não as horas que levam dias a passar… Tomamos o pequeno-almoço juntos na sexta-feira antes de me deixar no aeroporto. Ela gosta de café com leite morno, e coloca apenas uma colher de açúcar. Fico a observar os seus movimentos delicados, enquanto está distraída com uma mensagem que acabou de se anunciar com um simples toque no telemóvel, nunca a colher bate na chávena enquanto mexe o açúcar, reparei que faz o mesmo com o café. Depois levanta o olhar para me encarar e pergunta:
-que foi tonto? Não respondo, desvio o olhar para o jornal aberto nas páginas internacionais. E ela continua.
-a Ju convidou-me para ir passar o fim-de-semana a Ofir!
-aproveita, está bom tempo…
-não sei, tem sempre lá em casa uns amigos estranhos…
-estranhos como eu?
-sim, estranhos como tu, alguns até mais giros que tu! E sorri envergonhada pela provocação que me atirou.
Levanto-me do banco alto junto ao balcão e aproximo-me dela, aparto-lhe as pernas e encosto-me, puxando-a com força para mim, beijo os lábios doces de café com leite e compota de mirtilo.
-mais giros que eu?
-vais perder o avião!
-ainda temos vinte minutos…
Ela desce do banco, ignora-me e leva a chávena vazia para o lava-loiça, sigo-a, beijo-a no pescoço, passeio as mãos pelos braços, costas, ancas, transpondo a blusa pelo ventre. Espalmada a mão desce por dentro das calças bem justas, por dentro da lingerie, para fazer os dedos entrarem nela, ligeiramente húmida. Deixa-me doido, a rebentar de tesão, desaperto-lhe as calças e faço-as descer até aos joelhos, inclina-se um pouco para sentir os meus dedos mais no fundo. Pede-me dentro dela, e obedeço, sem grandes cerimónias e com alguma impetuosidade! Sinto-a quente, cada mais mais molhada, cada vez que a penetro procuro que seja mais e mais fundo, no limite paro, sem autorização para me vir dentro dela.
-vem-te na minha boca. Disse com uma voz rouca dos gemidos.

Acordo com o barulho que vem da porta, um bater fraco e receoso. Estou completamente encharcado, como se tivesse adormecido numa poça. Visto umas calças antes de abrir e para meu espanto é a Kate. Acho que se nota pela minha cara que a noite não foi pacífica, pergunta se estou bem, se vou descer para o pequeno-almoço. Peço-lhe uns minutos para tomar banho e fazer a barba, enquanto isso aproveita e pede para usar o meu portátil, o dela ficou sem bateria e o carregador não é compatível com as tomadas europeias.
Meia hora depois estou pronto, tomamos o pequeno-almoço, e vamos a pé até ao edifício onde ficam os escritórios da filial de Barcelona, a manhã fresca e as ruas limpas convidam ao passeio. O dia corre tranquilo, à volta da mesa oval onde se sentam os mesmos intervenientes do dia de ontem. As caras são as mesmas, uns mais tingidos pelo sol, mas as posturas e atitudes são complemente distintas, discute-se trabalho e apenas trabalho.

O sabor salgado do sangue misturava-se com o doce da chiclete, precisava mesmo de um cigarro, aquele mastigar plástico deixava-me ainda mais nervoso, mais necessitado do vício e morder o interior da boca era o limite da minha resistência. Ferran convida para jantarmos em sua casa, mal toco na comida e no vinho. Regresso cedo ao hotel, ainda tenho a mala por fazer.
Já estava deitado, a reduzir lentamente o meu estado de consciência, entrava num sonho como quem tropeça num paralelo, dunas de areia acumulavam-se num deserto infinito, quando o telefone tocou. Da recepção do hotel pediam para eu descer, uma mulher esperava por mim no bar. Foi com surpresa que recebi a assistente de Ferran, pedi um chá para mim e um whisky para ela, junto à piscina nas cadeiras de lona.
-Pensei que estavas de férias!
-E estou, convenientemente de férias…! Estás com má cara Romeu, e a beber chá, saudades minhas?
-Nem imaginas… ainda ontem pensei em ti!
-Também tenho pensado em ti, e até há pouco estive a ponderar se havia ou não de vir falar contigo. Quem diria que uma noite podia ser tão marcante…
-Gostei muito daquela noite!
-Eu também, mas não passa disso mesmo, uma noite. Precisava de te dizer isso cara a cara, para que não haja equívocos, falsas esperanças…
-Ainda bem que vieste, ainda bem que falamos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Costa Brava III

Com a palma da mão aberta procurou sentir um tesão que não havia dentro dos calções.
-Agradas-me Romeu, põe-no duro para mim!
-Querida, vais ter de te esforçar um pouco mais…
-Tu és mau! eu gosto de meninos maus. E consta por ai que tu gostas de “comer” secretárias!
Não gosto desta constatação e liberto-me do aperto constritor, deixando os braços de pele suave mas letais, livres para receberem Ferran. Saio da água e deito-me ao sol sem me secar, procurando nuvens num céu demasiado perfeito. Fecho os olhos para receber a imagem nítida dela deitada ao meu lado, distante num sonho de “uma chuva que não sendo chuva mas talvez humidade, tocava na pele nua e sobre Barcelona às escuras, como uma bênção”!
Ao mergulhar nos cabelos claros de quem chamei Julieta, voltava a sentir aquele cheiro de longe, despertando a memória de uma única noite muito intensa. Assim que entramos em casa dela, tinha sido empurrado contra a porta, baixou-me as calças e abocanhou-me o pénis, concretizando o desejo bem explícito. As roupas foram sendo abandonadas a caminho do quarto, e quando já não havia nada para despir, sentou-se na beira da cama e puxou-me para ela, desejando mais uma vez sentir-me bem duro na sua boca, pressionado contra os lábios. Puxei-a para mim e beijei-a, e fiz com que a língua sentisse todos os sabores do seu corpo, até a libertar num gemido delirante. De joelhos na cama esperei, e ela abriu-me as pernas pedindo que entrasse nela sem pronunciar um som, sem uma única palavra naqueles lábios inchados e rubros sempre ofegantes.

A claridade atenuada deu-me esperança de nuvens carregadas de um dilúvio virtuoso, mas era apenas a sombra projectada em mim do chapéu largo de Kate.
-Estás bem? Perguntou baixinho…
-Já estive melhor. Devo estar a desidratar, queres que te traga alguma coisa para beber?
-Pode ser água fresca sem gás se houver.
Desço à cozinha e na passagem estreita cruzo-me com a Táňa, parece que el catalãn não deu conta do recado, e o desejo não foi nem um pouco refreado. Lambe a mão com saliva e faz corre-la ao longo do meu membro, desta vez mais duro dentro dos calções. Propõem-me uma sessão de sexo oral, e faz tenção de se ajoelhar para manifestar a sua devoção. No limite de cair no abismo daquela boca com pronúncia checa, recuo, desculpo-me, procuro a tona de água para não me afogar!

Com a palma da mão aberta sentiu o tesão não contido dentro das calças.
-De certeza que não queres mais nada?
-O que fizeste já foi suficiente…
-Nem uma massagem? só para relaxares um pouco, estás um pouco tenso… E sorri mordendo o lábio vermelho, baixando o olhar na direcção da tal tensão!
Desaperta-me a camisa e eu deixo. Da bolsa tira um óleo de massagens e um elástico com que prende o cabelo preto reluzente no topo da nuca. Continua nua, a pele perfeitamente bronzeada à excepção da zona púbica, e tiro as calças voltado de frente para ela.
-Tira tudo, não te quero sujar com óleo.
E ficamos nus, em contrate de tom, sem sentimentos de superioridade oferecidos a quem se despe perante o outro. Apesar deste preconceito, nunca me senti acima dela enquanto se despia e dançava para mim, pelo contrário, deixou-me sem controlo das minhas vontades, entregue ao deleite dela que aparentemente se despia para meu prazer. Deito-me de bruços no lençol aberto para trás e ela senta-se ao fundo das minhas costas. Verte um pouco de óleo sobre as mãos e depois desliza-as ao longo da espinha, fazendo compressão, desde o ponto mais próximo do seu sexo quase desprovido de pêlo, até ao meu pescoço, rodando pelos ombros, puxando-os e retomando o percurso inverso.

-Coño! estás bem? Estamos na rua à tua espera… ainda vais demorar? Vem-te lá!
-Estou a descer. E desligo.
Adormeci e ela já não está. Visto-me meio perdido na escuridão do quarto, antes de sair lavo os vestígios de sono da cara, preciso com urgência dum cigarro.
-Então que tal a “chica”?
-Fantástica…
Ferran tem um sorriso pérfido agarrado aos dentes que se traduz em qualquer idioma num “eu bem te disse!”, obriga-me a pisar o vício antes deste chegar ao fim, entrarmos no carro estacionado a poucos metros dali. Deixa-me à porta do hotel, para eles a noite ainda vai continuar carregada em pecado e luxúria, por mim já chega, só me apetece sentar numa daquelas cadeiras de lona crua do exterior, junto à piscina, e beber uns whiskys, fumar uns cigarros, esperar em vão que chova.
“Se algum dia te sentires sozinho em Barcelona, liga-me! Gostei de ti.” Está escrito a lápis preto no maço de tabaco, já ligeiramente esborratado pela passagem distraída dos meus dedos. Tiro o último cigarro antes de ir dormir, deixou o nome e contacto.