O jantar aguentou pouco no estômago. Uma pena, aquelas costelinhas de borrego bem caramelizadas, temperadas a meu gosto, estavam divinais! Náuseas, tonturas e tremores, mas só sinto calor, um calor infernal. Volto a deitar-me depois de um banho de água fria, as dores de cabeça não desaparecem, mas aquela sensação febril dissolve-se aos poucos.
Não tenho ilusões de fechar os olhos e dormir. Penso naquela que me trás cativo no seu abraço, nos lábios cobertos de sardas que nunca me canso de beijar. Nem três dias passaram desde a última vez que estive com ela, e as saudades já me fazem delirar, ou então é da febre. Talvez seja a distância e não as horas que levam dias a passar… Tomamos o pequeno-almoço juntos na sexta-feira antes de me deixar no aeroporto. Ela gosta de café com leite morno, e coloca apenas uma colher de açúcar. Fico a observar os seus movimentos delicados, enquanto está distraída com uma mensagem que acabou de se anunciar com um simples toque no telemóvel, nunca a colher bate na chávena enquanto mexe o açúcar, reparei que faz o mesmo com o café. Depois levanta o olhar para me encarar e pergunta:
-que foi tonto? Não respondo, desvio o olhar para o jornal aberto nas páginas internacionais. E ela continua.
-a Ju convidou-me para ir passar o fim-de-semana a Ofir!
-aproveita, está bom tempo…
-não sei, tem sempre lá em casa uns amigos estranhos…
-estranhos como eu?
-sim, estranhos como tu, alguns até mais giros que tu! E sorri envergonhada pela provocação que me atirou.
Levanto-me do banco alto junto ao balcão e aproximo-me dela, aparto-lhe as pernas e encosto-me, puxando-a com força para mim, beijo os lábios doces de café com leite e compota de mirtilo.
-mais giros que eu?
-vais perder o avião!
-ainda temos vinte minutos…
Ela desce do banco, ignora-me e leva a chávena vazia para o lava-loiça, sigo-a, beijo-a no pescoço, passeio as mãos pelos braços, costas, ancas, transpondo a blusa pelo ventre. Espalmada a mão desce por dentro das calças bem justas, por dentro da lingerie, para fazer os dedos entrarem nela, ligeiramente húmida. Deixa-me doido, a rebentar de tesão, desaperto-lhe as calças e faço-as descer até aos joelhos, inclina-se um pouco para sentir os meus dedos mais no fundo. Pede-me dentro dela, e obedeço, sem grandes cerimónias e com alguma impetuosidade! Sinto-a quente, cada mais mais molhada, cada vez que a penetro procuro que seja mais e mais fundo, no limite paro, sem autorização para me vir dentro dela.
-vem-te na minha boca. Disse com uma voz rouca dos gemidos.
Acordo com o barulho que vem da porta, um bater fraco e receoso. Estou completamente encharcado, como se tivesse adormecido numa poça. Visto umas calças antes de abrir e para meu espanto é a Kate. Acho que se nota pela minha cara que a noite não foi pacífica, pergunta se estou bem, se vou descer para o pequeno-almoço. Peço-lhe uns minutos para tomar banho e fazer a barba, enquanto isso aproveita e pede para usar o meu portátil, o dela ficou sem bateria e o carregador não é compatível com as tomadas europeias.
Meia hora depois estou pronto, tomamos o pequeno-almoço, e vamos a pé até ao edifício onde ficam os escritórios da filial de Barcelona, a manhã fresca e as ruas limpas convidam ao passeio. O dia corre tranquilo, à volta da mesa oval onde se sentam os mesmos intervenientes do dia de ontem. As caras são as mesmas, uns mais tingidos pelo sol, mas as posturas e atitudes são complemente distintas, discute-se trabalho e apenas trabalho.
O sabor salgado do sangue misturava-se com o doce da chiclete, precisava mesmo de um cigarro, aquele mastigar plástico deixava-me ainda mais nervoso, mais necessitado do vício e morder o interior da boca era o limite da minha resistência. Ferran convida para jantarmos em sua casa, mal toco na comida e no vinho. Regresso cedo ao hotel, ainda tenho a mala por fazer.
Já estava deitado, a reduzir lentamente o meu estado de consciência, entrava num sonho como quem tropeça num paralelo, dunas de areia acumulavam-se num deserto infinito, quando o telefone tocou. Da recepção do hotel pediam para eu descer, uma mulher esperava por mim no bar. Foi com surpresa que recebi a assistente de Ferran, pedi um chá para mim e um whisky para ela, junto à piscina nas cadeiras de lona.
-Pensei que estavas de férias!
-E estou, convenientemente de férias…! Estás com má cara Romeu, e a beber chá, saudades minhas?
-Nem imaginas… ainda ontem pensei em ti!
-Também tenho pensado em ti, e até há pouco estive a ponderar se havia ou não de vir falar contigo. Quem diria que uma noite podia ser tão marcante…
-Gostei muito daquela noite!
-Eu também, mas não passa disso mesmo, uma noite. Precisava de te dizer isso cara a cara, para que não haja equívocos, falsas esperanças…
-Ainda bem que vieste, ainda bem que falamos.
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