terça-feira, 2 de agosto de 2011

sway

Já era de estranhar que depois de duas horas à frente do tapete rolante, a minha mala continuasse sem aparecer. Depois de confirmar que estava no tapete certo, reclamei junto da companhia aérea. Parece que aquele voo para Zurique, era uma escala para Bangkok…por isso a minha bagagem estava em viagem para a Ásia!
A menina simpática do guiché prontificou-se a dar-me indicações de como chegar ao hotel, aproveitei para saber onde podia comprar produtos de higiene, tais como lâmina de barbear, e roupa de homem, já que apenas tinha comigo o meu portátil, e no dia seguinte esperava-me uma reunião e embora tivesse a feliz ideia de viajar de fato, precisava de pelo menos uma camisa e roupa interior lavada!
Os planos iniciais eram de passar o mínimo de dias em Zurique, apenas o tempo necessário para reunir, trocar impressões e dois dias depois estaria de volta ao Porto! Mas ao fim destes dois dias a minha bagagem ainda não tinha regressado e a funcionária da companhia aérea desfazia-se em desculpas, pedindo que permanecesse mais 24h em Zurique, e que para além de me alterarem o voo, ainda me pagavam a estadia e demais despesas.

Depois de um dia complicado em reuniões que mais pareciam aulas de spinning, lá voltei mais morto que vivo ao hotel. Jantei cedo, deitei-me na cama a olhar para a tv e dei comigo a pensar que haveria milhentas coisas mais interessantes para fazer e que afinal, tinha o dia seguinte para dormir.
Entrei num bar simpático, o Splendid, com ambiente descontraído. Sentei-me ao balcão onde não estava ninguém e pedi um whisky. Nas mesas espalhadas, alguns casais e um grupo heterogéneo divertido mais ao fundo. Havia música mas o espaço para dançar não era muito, no entanto isso não era impedimento para que alguns elementos do grupo bailassem entre as mesas! Era o caso delas as duas.
Quando uma música lhes agradava, levantavam-se em simultâneo e dançavam agarradas, ou mais afastadas, mas sempre de um modo muito sensual que cativava os olhares da sala. Eram ambas donas de uma beleza singular, difícil até de descrever ou de nomear qual das duas seria a mais bela. Uma delas tinha cabelo castanho claro, cortado em volta do rosto, e um olhar verde que me mantinha cativo. A outra, de cabelo mais escuro, quase preto, olhos de um azul de mar revolto. Os rostos corados pelo esforço e não só, lábios ao rubro que quase se tocavam.

E os primeiros acordes fizeram anunciar o ritmo alucinante de Sway ! As duas voaram por entre as mesas e sem largarem as mãos começaram a dançar, a poucos metros de onde eu estava. Senti os olhos postos em mim e voltei-me para elas, enquanto fazia pequenos círculos com o dedo na borda do copo. Dançavam agora mais juntas e sem desviar o olhar, provocando com caricias. Bebi o que restava para me dar coragem e agarrei o primeiro braço que se baloiçava à minha frente, os olhos verdes quase que me fulminavam enquanto a fazia rodopiar por baixo do meu braço até a fazer vir ao encontro do meu corpo, e uma outra mão tomava a minha, e um olhar azul enrolava-se, dançando voltada de costas, enquanto a sentia bambolear-se contra mim. Desprendeu-se de mim e voltei a ter frente a frente os olhos cativantes, imensos, e para trás e para a frente a guiava sentindo-a sensual na ponta dos meus dedos.
Quando a música acabou, sentaram-se noutra mesa, afastadas do grupo e atravessei a sala com o casaco no braço e três bebidas nas mãos. Sentei-me junto à de olhos verdes e cabelo mais claro. Perguntaram-me de onde era, e lá contei as minhas peripécias, a minha mala que viajou até Bangkok e a permanência mais prolongada por Zurique. E assim a conversa nasceu, sugestões sobre o que devia visitar, depois falamos sobre as cidades e experiencias interessantes, saltamos facilmente para os costumes, dialectos, gastronomia, e não se sabe bem como, música, livros, arte, cinema…os copos acumularam-se na mesa, não demos pelas horas passarem. Na dança do levanta e vai buscar bebida, acabo por me ver sentado entre as duas. E a de cabelo mais escuro pergunta se pode provar do meu whisky e empurro o copo para a sua frente. –quero provar dos teus lábios. Bebo um gole e as nossas bocas tocam-se, ela lambe o lábio e diz que não é suficiente para sentir o sabor, e volto a beber mais um trago e faço a língua, amarga, seca e alcoólica do malte envelhecido, deslizar dentro da sua boca. – É boa a tua língua, saborosa apesar de amarga! E a outra pede então para provar, mas não da minha boca, mas da boca da amiga, e beijam-se à minha frente, enquanto sinto o deslizar das duas sobre os meus braços, mãos que me tocam nas pernas e que sobem até me sentirem. As luzes começaram a ser desligadas, eram horas de fechar.

Ficamos mais um pouco à porta do Splendid, mas começava a ficar frio e despedimo-nos, o meu hotel ficava na direcção contrária, no entanto o meu desejo era seguir precisamente no caminho que elas tomavam, mas não queria ser indelicado e oferecer a minha companhia, sem saber ao certo se elas a queriam! Então a de cabelo mais claro e olhos de lima leu os meus pensamentos e sugeriu irmos para casa dela, onde podíamos continuar a conversa e tomar um chá quente. Aceitei, não pelo chá, que frio era coisa que eu não sentia!

Quentes pelo chá e pelo ambiente, rapidamente a conversa tomou o rumo que me agradava, e as duas, abraçadas, tirando as t-shirts, perguntavam se alguma vez tinha estado com duas mulheres ao mesmo tempo. E beijavam-se, tocavam-se, as roupas iam sendo libertadas até estarem diante mim completamente nuas, excitadas, gemendo! A língua da de olhos azuis tomava agora conta do corpo da amante, fazendo-a gemer cada vez mais alto, até toda ela se contorcer de prazer. E tomando consciência que eu afinal ainda estava ali, riram e perguntaram se queria participar, abrindo espaço entre elas para me receberem. Deixei que me tirassem a roupa, sentia quatro mãos percorrerem-me o corpo, duas línguas à solta em mim, era absolutamente fantástico, de uma sensualidade inebriante. Senti primeiro o sabor de uma e depois da outra, e entre elas continuavam os afagos, as caricias.
Acordei aos primeiros raios de sol enrolado nos seus corpos nus, perfumados a chá e jasmim, levantei-me trôpego e procurei nos bolsos do casaco o maço de cigarros, vazio.

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